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A FALÊNCIA DA AGRICULTURA
Por José Luiz Bittencourt (*)

A equipe econômica do governo parece não estar percebendo o momento de falência no campo. Insensível aos apelos gerais, não avalia a inexistência de uma política agrícola eficiente, com investimentos em setores específicos. Já se ouve falar em falência da agricultura brasileira e faltam ações que incluam incentivos à logística do setor e queda dos juros. Comenta-se, também, que a supervalorização do real tem comprometido as atividades dos produtores rurais, principalmente os de soja, cujo prejuízo é proporcional ao montante produzido. Não há incentivos nem uma política de preços para garantir a venda das safras, fato notório em várias regiões do país.
Paradoxalmente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulga o perfil da segurança alimentar que, devidamente analisado, exige do governo a implementação imediata de políticas sociais emergenciais, a fim de amenizar a situação crítica que estamos enfrentando.
Recursos orçamentários para tanto são previstos na lei específica, mas infelizmente não têm sido aplicados, o que leva muitos de nossos patrícios ruralistas à fome e à miséria. O governo não direciona o produtor para o que deve ser feito, não há uma pesquisa necessária nem estudo mercadológico e faz com que os produtores arrisquem como se fosse sempre um jogo.
Na Câmara Federal, há poucos dias, o deputado Wellington
Fagundes, da bancada do Estado de Mato Grosso, alertou para a crise enfrentada pelo agronegócio, observando o que é obrigação das autoridades de qualquer nação ter inteligência suficiente para analisar o mercado e orientar os produtores, fato que comumente não acontece. Listem-se algumas
das principais reivindicações dos produtores, como a desoneração do óleo diesel, a alocação dos recursos suficientes para a sustentação de preços dos produtos agropecuários, a liberação imediata de recursos para a conservação de todas as rodovias federais (por onde se escoa a produção agrícola), a fiscalização no valor do pedágio e incentivo fiscal temporário para a sua implementação e, por fim, a aprovação urgente dos projetos de lei que regulamentam o setor rodoviário de caminhões.
Outro grande problema enfrentado é o subsídio, pois na
Europa e nos Estados Unidos, o volume de ajuda governamental aos produtores é grande, pois lá eles têm garantia: se criam uma vaca e se for interessante para o governo, este paga, às vezes, até mil dólares para manter o animal de leite no pasto. Na França, na Itália, na Alemanha, na Inglaterra e na
Espanha é assim: quando há um excesso de produção de leite, o governo compra e indeniza o produtor, que não tem de calcular juros, eis que não é função dos agricultores fazer pesquisas, mas sim das universidades. Por isso mesmo,
para solucionar esse problema, é preciso considerar fundamental uma ação mais decisiva do governo na área da comercialização, com a garantia de preços mínimos, uma atuação mais forte na reforma agrária e a criação do seguro de renda para a agricultura familiar.
Muitos de nossos sociólogos admitem que a sociedade brasileira "é a mais injusta do mundo" e daí o agravamento progressivo dessa situação de desconcerto econômico-financeiro com a ampliação também da disparidade de renda. Outros indicam que isso é reflexo da adoção do modelo neoliberal da economia, que acabou gerando um "exército de brasileiros excluídos e revoltados". A conseqüência é esse quadro atual do Brasil visto através do espelho da desigualdade social, da crise de valores e pelo aumento da criminalidade. A vigente política cambial é danosa para a agricultura, as dificuldades do setor estão aumentando e o Brasil perde no mercado mundial. O governo precisa agir com urgência para que não sofra o país mais um descompasso na sua economia.
(*) José Luiz Bittencourt é membro da Academia Goiana de Letras e ex-vice-governador de Goiás


Editado por Adriana   às   7/15/2006 10:52:00 AM      |