por Dora Kramer em O Estado de São Paulo Facções criminosas agiriam contra o PSDB, mas não por inspiração do PT As suspeitas de que os ataques do crime organizado em São Paulo teriam motivação política, levantadas pelo presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen, e corroboradas pelos candidatos do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, e ao governo, José Serra, não são meras ilações, mas também não expressam a verdade em sua real dimensão. As acusações são baseadas em material de gravação da polícia paulista de conversas telefônicas autorizadas pela Justiça, mas não revelam uma ligação direta entre as facções criminosas e o PT. A oposição partiu de dados concretos, mas fez uma adaptação, interpretando as informações da forma eleitoralmente mais conveniente. Os "grampos" mostram, na verdade, a contrariedade com os governos do PSDB, desde a gestão Mário Covas, por causa da construção de presídios em todo o Estado e da instituição do regime disciplinar diferenciado (RDD), que normatiza as sanções aos presos de alto risco, permitindo, por exemplo, o isolamento por um período de até 1/6 da pena aplicada, e impõe restrições a visitas e banhos de sol. O assunto foi levado inicialmente ao conhecimento do ex-presidente Fernando Henrique em meados de junho e, desde então, a conveniência de sua divulgação vem sendo tratada internamente pelas cúpulas do PFL e do PSDB. A exibição das "provas" em que se basearam as declarações dos oposicionistas nos últimos dias é uma possibilidade concreta, principalmente se os autores das suspeitas foram acionados na Justiça. Ontem o PT entrou com notícia-crime contra Serra junto ao procurador eleitoral de São Paulo, por difamação, e anunciou que vai fazer o mesmo contra Bornhausen, que foi quem fez a afirmação ligando o PT às ações do crime organizado, cumprindo o papel de atacante radical reservado ao PFL na aliança tucano-pefelista. Serra e Alckmin mantiveram-se no limite da ilação, manifestando "estranheza" quanto à ocorrência de ataques no período eleitoral. Em princípio, o que pareceu estranho mesmo foram essas declarações aparentemente baseadas em coisa alguma e com potencial de risco grande para seus autores, pois evidentemente seriam cobrados a apresentar provas. Ao que se sabe, estariam municiados pelas gravações que, no entanto, não indicariam participação do PT em nenhum conluio com criminosos, mas apenas evidenciariam a insatisfação destes com o governo local, ocupado há 12 anos pelo principal partido adversário dos petistas na eleição presidencial. Sendo só isso mesmo, tudo indica que a oposição carregou nas tintas - para dizer o mínimo - ao fazer acusações graves baseada em meias-verdades.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/15/2006 05:35:00 AM |
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