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EQUILÍBRIO ECOLÓGICO
Por Dora Kramer em O Estado de São Paulo
Pesquisa não revela surpresas. Espantosa era a crença em vitórias fáceis
Uma coisa são os números, outra coisa são as circunstâncias. Os diretores de institutos de pesquisas e, diga-se, uma boa leva de gente com poder de influência no pensamento e na comunicação, talvez por dever de ofício, costumam ignorar os dados da realidade dando excessiva - quando não exclusiva - atenção aos índices.Com isso, acabam levando o eleitorado a raciocinar com base no mesmo cacoete. E, assim, quando as pesquisas começam a se mover na direção da realidade as alterações de cenário causam espanto.São recebidas com surpresa quando na verdade surpreendente era a crença inabalável no poder e na imutabilidade dos números. Como se tivessem vida própria.Aconteceu por ocasião da recuperação dos bons índices do presidente Luiz Inácio da Silva no primeiro semestre, depois de um fim de ano de baixa acentuada, e ocorre de novo agora, quando as pesquisas registram todas - algumas até para prudentemente "ajustarem-se" às outras - a consolidação da tendência de uma eleição em dois turnos.De imediato surgem as indagações - "Como é que pode?" -, correm todos em busca de explicações das simplistas (efeito da publicidade) às mais elaboradas (conseqüências da ação do crime organizado em São Paulo) para a subida de Alckmin, descida de Lula e entrada de Heloísa Helena no jogo eleitoral.Espantoso de fato seria se aquele cenário anterior se mantivesse até a eleição, que, segundo análises da época, só um desastre total (um tsunami, como gostam de se referir desde a popularização do fenômeno) poderia mudar.Nada mais artificial e enganador. As circunstâncias apontavam exatamente para uma situação mais equilibrada em função da correlação de forças no meio ambiente político e social.Em primeiro lugar seria em tudo e por tudo absolutamente impossível que a crise provocada pelos escândalos de corrupção não tivesse efeito algum sobre as eleições.As conseqüências aparecem agora e muito potencializadas pelo fato de o governo em geral e o presidente da República em particular terem ficado indiferentes a essa evidência acreditando-se tão poderosamente acima do bem e do mal (principalmente do mal) que poderiam se dar ao direito de ignorar a questão moral.E aí, se cometeram diversos desvarios na seara governista: abrigo desabrido aos mensaleiros, desprezo explícito à influência do tema na eleição, afrontas repetidas à legislação eleitoral e, para culminar, a volta à origem do escândalo entregando os Correios ao PMDB.Sob qual justificativa? Rigorosamente nenhuma além do fisiologismo (na melhor das hipóteses) deslavado. A menos que a aliança programática alegada pelo governo tenha por propósito um bem elaborado programa de entrega de correspondências, capaz de pôr o Brasil no rumo do desenvolvimento.A aliança partidariamente forte do principal adversário de Lula é um outro fator que indicava uma mudança de cenário. PSDB e PFL governaram o Brasil anos a fio e comandam os três principais Estados do País.Conta na mexida das pesquisas, também, o previsível sucesso de Heloísa Helena, ao qual não se deu o devido peso antecipado.Por fim, foi desprezado o mais primário dos fatores: a impossibilidade de uma vitória fácil, de véspera. Tentação da qual conviria também a oposição fugir antes que comece a dar excessivo crédito a uma trajetória ascendente definitiva, pois os números também carregam recados importantes.E o mais substancial revelado nesta última rodada do Ibope foi a existência de 38% de indecisos na pesquisa espontânea. Trata-se de muita gente a conquistar antes de descansar.


Editado por Giulio Sanmartini   às   7/27/2006 08:57:00 AM      |