Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa
BRASÍLIA - Liberou geral. Todos os candidatos à presidência da República pregam a reforma política como panacéia universal, solução para todos os nossos problemas, a começar pela corrupção que assola o Congresso. Vale começar pelo Lula, que como presidente poderia, há três anos e dois meses, ter desencadeado a proposta que agora exalta. Disse em praça pública, na abertura de sua campanha à reeleição, ser preciso coragem para mudar as estruturas políticas com "certa profundidade". Senão, "daqui a vinte anos estaremos amargando as mesmas coisas que hoje lamentamos". A referência foi para a corrupção, sendo o sistema político culpado por ela.
Interferindo em outro poder
Mesmo de forma atabalhoada, sem particularizar o que entende por reforma política, Lula falou em reorganizar estruturas partidárias, mudar regimento interno do Congresso, acabar com os partidos-laranja e discutir o mandato de pessoas. Começando pelo fim: o que significa discutir o mandato de pessoas? É bom tomar cuidado. Pode ser discutir quem merece e quem não merece ser candidato, eleger-se e tomar posse.
Quem vai decidir? Os partidos, pelos seus caciques, a Justiça Eleitoral, o Ministério Público, a maioria parlamentar ou o Planalto? Seria preciso estabelecer os parâmetros, evitando discriminar, por exemplo, quem torce contra o Corinthians. Na República Velha era mais ou menos assim.
Esqueceu-se o presidente de que a cláusula de barreira, em vigor, acaba com os partidos-laranja. Bastaria ele posicionar-se contra um deletério projeto em gestação secreta na Câmara, a ser aprovado em novembro, adiando para 2010 os efeitos da cláusula de barreira. Quanto a mudar o regimento interno do Congresso, trata-se de interferência indébita nos negócios de outro poder, como se o Congresso pretendesse mudar a estrutura da Casa Civil da Presidência.
Nenhuma palavra sobre a fidelidade partidária, o financiamento público das campanhas, o voto distrital, o voto em listas fechadas. A conclusão é de que, em matéria de reforma política, Lula precisa encontrar rápido um professor...