Por Villas-Bôas Corrêa no Jornal do Brasil Com a CPI dos Sanguessugas pisando firme no acelerador para fechar a lista dos envolvidos com a roubalheira da compra de ambulâncias, ônibus escolares e equipamentos eletrônicos superfaturados, convém atualizar a cada dia os dados estatísticos da orgia da corrupção para registrar a estréia de novos personagens no maior festival de suborno da nossa crônica política. Há sempre novidades pingando na poça da vergonha. Entre as últimas revelações, registre-se a inclusão do nome do ex-ministro da Saúde, deputado Saraiva Felipe (PMDB-MG), na lista de mais de 33 parlamentares que estão sendo investigados pela CPI. O honrado ex-ministro, que reassumiu o mandato para se candidatar à reeleição, nega, com os dedos cruzados, que tenha embolsado um real da máfia. Palavra contra palavra: o empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, no seu arrasador depoimento, afirma que o ex-ministro, quando no exercício do cargo, atuava para a liberalização dos recursos embolsados pela quadrilha. Detalhes que serão devidamente apurados. Voltamos aos números. Com os 57 nomes que brilharam na lista da semana passada, somados aos 33 do último lançamento, sobe ao estratosférico total de 90 parlamentares - sendo 87 deputados e três senadores - sob suspeita, gravíssima suspeita de envolvimento na imundície que invade o Congresso, causando estragos piores do que a invasão dos vândalos do MLST. Devagar com o corso para não esquecer ninguém pelo caminho. Aos 90 que pegaram carona no desfile, devem ser acrescentados os 25 ex-parlamentares acusados por Vedoin no depoimento prestado à Justiça Federal. Portanto, até agora, com vagas para novas possíveis adesões, a lista bate com a cabeça no teto de 115 parlamentares e políticos investigados pela CPI e pela Justiça. Há deputados para todos os paladares na gordurosa sopa de siglas: 18 (cada) dos recordistas PP e PL, 17 do PTB, 11 do PMDB, nove do PFL de veemente linha oposicionista, seis do PSB, quatro do PSDB da aguerrida oposição, dois do PT, dois do PRB, dois do PSC e um do PPS. Este aterrorizante quadro da decomposição moral do Congresso explica a frustração nacional e alerta para o risco da reação equivocada e suicida do voto em branco. Não é tapando os olhos e virando as costas que o eleitor indignado limpará o Legislativo do entulho que o degrada. Sem Congresso, não há democracia e a alternativa é a ditadura com o rastro de horrores que suportamos nos quase 21 anos do rodízio dos generais-presidentes. Está passando da hora da mobilização popular, com os caras pintadas da juventude à frente, para o voto consciente do pleno exercício da cidadania para expulsar da Câmara e do Senado os cúmplices que absolveram os denunciados pelas CPIs e pelo Conselho de Ética de corrupção nos escândalos inaugurais do mensalão e do caixa 2; de barrar o retorno dos perdoados pelo PT e incluídos na relação de candidatos a renovar os mandatos. Não se limpa o Congresso virando as costas para as urnas. O voto em branco não é protesto, é fuga, é a omissão, a renúncia ao exercício da cidadania. Se os estudantes não ocuparem o seu lugar na vanguarda da indignação, se os de sempre não saírem à rua para despertar a mobilização da sociedade, os espertalhões continuarão a farra do despudor, das mordomias, das vantagens, do saque ao cofre da viúva. E ainda assistiremos, na gandaia da instalação do novo Congresso, a bailarina do mensalão, deputada do PT paulista, Ângela Guadagnin, no rebolado do show inaugural da nova temporada da mesma peça, com alguns provocantes números novos.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/27/2006 01:14:00 AM |
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