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   Domingo, 23 de Fevereiro
IDIOTA OU CÚMPLICE
Por José Inácio Werneck em Direto da Redação
Quem viu o filme The Manchurian Candidate é levado às vezes a desconfiar que George W. Bush é um quinta-coluna, agente secreto do terrorismo muçulmano. Ou um idiota total, como deixou escapar na imortal frase proferida na Conferência dos G-8 em São Petersburgo: “Tenho vontade de mandar o Kofi Annan ligar para o Assad e mandar ele parar com essa merda”. A única surpresa reside, é claro, no fato de que a direita religiosa americana jamais pensou que seu supremo líder pudesse usar uma palavra tão vulgar quanto "shit". Tudo o mais está nos conformes: a suposição de Bush de que o Secretário-Geral da ONU é um empregado seu e a de que se Assad, na Síria, receber uma ordem sua, através de um terceiro, vai parar logo com aquela “merda” e esquecer que afinal ele tem também um velho problema a resolver com Israel, a respeito das Colinas Golan, território de seu país que até hoje se encontra sob ocupação.As raízes do conflito entre árabes e judeus são tão antigas que se perdem na memória dos tempos e quem hoje está por cima, como Israel, pode perfeitamente esquecer que já esteve por baixo e também se utilizou do terrorismo, através da famosa Stein Gang, para conquistar um lugar ao sol.As pessoas passam a desconfiar que Bush é um agente inimigo ao constatar que sua política externa levou a América, que recebeu a solidariedade mundial depois do 11 de setembro, a se tornar hoje mal-vista, hostilizada, desprezada e até odiada na maior parte do mundo. Todos os que o apoiaram, como Sílvio Berlusconi e José Maria Aznar, foram repelidos nas urnas. Tony Blair – com quem Bush só falava em São Petersburgo chamando-o de “Blair”, ignorante do fato de que pelos costumes ingleses você só se dirige a uma pessoa por seu sobrenome, sem antecedê-lo de um Mr. ou Ms., quando o considera um serviçal - está nas cordas, na política britânica, vítima do escárnio geral por ter levado o país à aventura no Iraque. É até apropriado que Bush o trate como um serviçal, pois esta é mesmo a impressão geral em Londres, onde estive durante duas semanas: a de que Tony Blair, diante de George W. Bush, comporta-se como um “schoolboy” diante de seu mestre, ou, pior ainda, como um “poodle”, um cãozinho amestrado.O Iraque é um fiasco. Quanto ao Líbano, o plano de Bush, se é que se pode chamar a isso de plano, era deixar Israel impor-se ao Hezbollah numa invasão fulminante – e só aí intervir, ditando as condições da paz. Só que o enredo já começou a tornar-se mais ridículo do que as chanchadas da Atlântida, pois a tal invasão, que era para decidir tudo em questão de dias, ameaça agora tornar-se uma longa, sangrenta e dolorosa campanha de algumas semanas. A platéia só não ri porque tem que chorar, com a perda de vidas inocentes, aí incluídas as de observadores da ONU, bombardeados por Israel.Enquanto tal ocorria, Bush era obrigado a admitir, ao lado do Primeiro-Ministro Iraquiano, Nuri Kamal Al-Maliki, que “a violência em Bagdá está terrível”. Depois de fazer uma confissão tão acabrunhante, ainda teve que agüentar calado a audácia do bofe: o fato de que aquele fantoche ao seu lado, aquele boneco de engonço que ele colocara no cargo exatamente para obedecer suas ordens, foi ainda assim capaz de reunir um resquício de dignidade e criticar o que se passa no Líbano.Mas Bush não se dá por achado – nem acha o Osama bin Laden.


Editado por Giulio Sanmartini   às   7/27/2006 08:52:00 AM      |