Por Paulo G. M. de Moura, cientista político para o Blog do Diego Casagrande
A declaração de Valter Pomar (Secretário de Relações Internacionais do PT) convocando a militância petista para a guerra eletrônica – seguida da invasão e clonagem do ex-blog do prefeito Cesar Maia por hackers – transformou o uso da Internet na política em pauta obrigatória. Há cerca de uns quinze dias atrás criei um Hotmail e distribuí um e-mail convidando pessoas de meu círculo de relações a me enviarem tudo o que receberem através de e-mail sobre as eleições 2006. Já tenho uma coleção com milhares de e-mails. Adivinhem o que descobri? De todos os e-mails que recebi, apenas um tinha conteúdo de denúncia contra parlamentares do PSDB e do PFL. Nesse referido e-mail, os parlamentares de oposição estavam sendo falsamente acusados pela autoria de um projeto de lei que extinguiria o 13º salário. Poucos dias depois recebi um e-mail orientando os internautas a acessarem o site do Congresso para comprovar a falsidade da acusação, já que não existe nenhum projeto de lei com esse conteúdo em tramitação. Todos, rigorosamente todos os demais e-mails que recebi são de conteúdo crítico e são dirigidos contra a corrupção em geral e/ou contra a reeleição de Lula e contra o petismo em particular. Boa parte deles recorre ao humor como forma de crítica política. Curiosamente, minha constatação coincide com o que observei na época do referendo das armas. Com exceção de um e-mail que circulou então, todos os demais que recebi defendiam o voto no NÃO. Naquela época não me ocorreu o procedimento de pesquisa que agora adotei, mas retive na memória essa desproporção entre os e-mails que defendiam o NÃO e o SIM no referendo. Minha curiosidade se voltou para a possível influência da Internet na conformação do resultado do referendo. Tomo-a por base também, para assumir o risco que decidi correr de prognosticar a vitória de Alckmin nessa eleição. Esse fenômeno é muito importante como indicador político das predisposições eleitorais do público internauta. Todo mundo sabe que os usuários de Internet são predominantemente, gente jovem, de bom nível de instrução e poder aquisitivo. A Internet, portanto, é uma ferramenta barata; ágil e de alta capacidade de propagação de informações destinadas à formação de opinião. Seu público usuário se compõe de indivíduos com perfil de liderança em seus círculos sociais de convivência. Valter Pomar tem toda a razão em temer os ataques em rede contra o petismo. Adeptos de teorias conspiratórias poderiam imaginar que todas as mensagens contra a corrupção e contra a reeleição de Lula têm origem em um único centro difusor patrocinado pela oposição. Se isso fosse verdade, bastaria descobrir esse suposto centro difusor e estrangulá-lo recorrendo a quaisquer instrumentos a serviço do autoritarismo. Um deles é a invasão e clonagem de sites por hackers, tal como praticado contra o ex-blog do prefeito Cesar Maia, que é apenas um dos centos difusores conhecidos e assumidos, da oposição. Ocorre que o sentimento de repulsa dos setores bem educados e bem informados da sociedade contra a corrupção é difuso e generalizado. Logo, as mensagens de conteúdo oposicionista que circulam pela rede não têm origem única. Qualquer indivíduo com criatividade, senso crítico e conhecimento sobre como enviar e-mails pode produzir conteúdos e botá-los para circular. Dentre os vários usos possíveis da rede na política, a utilização da Internet presta-se muito bem à propaganda negativa. Um dos cuidados que se deve tomar ao atacar adversários em campanhas eleitorais tem origem na rejeição que pode recair sobre o atacante, por mais eficaz que seja a crítica. Ou seja, o ataque pode funcionar contra o atacado, mas pode inviabilizar eleitoralmente o atacante também. O ataque pela Internet é anônimo e, quando recorre ao humor, desarma o espírito defensivo do receptor. Se o receptor achar graça e sorrir diante da mensagem recebida, terá comprado o argumento crítico. Tão simples quanto eficaz é essa arma, portanto. A newsletter do prefeito do Rio, nesse contexto, tem se revelado uma ferramenta primordial para combater a avalanche midiática pró-Lula. Sua interpretação das pesquisas publicadas e sua leitura crítica da imprensa, pinçando informações relevantes omitidas pelas manchetes chapa-branca e contestando a leitura leviana e superficial que a mídia faz das pesquisas eleitorais e das informações políticas, tem sido de fundamental importância para reversão da situação que o lulismo criou na fase da pré-campanha, criando um clima artificial de vitória em primeiro turno. O blog do Reinaldo Azevedo (ex-Primeira Leitura) e este site do Diego Casagrande também cumprem essa função e devem ser os próximos alvos da guerra do oficialismo contra a verdade. Invadir e clonar sites e blogs são apenas alguns dos instrumentos a que podem recorrer aqueles que são alvo das críticas que circulam no ciberespaço. Mas, como a origem das críticas é difusa e não parte de um centro único, e, além disso, como essa crítica expressa um sentimento generalizado em setores expressivos da opinião pública, o poder de reação aos ataques oficiais é muitíssimo mais poderoso, abrangente e eficaz. A simples difusão da informação de que o ex-blog de Cesar Maia foi clonado, por si só, desperta um sentimento de solidariedade nos internautas contra os interessados em calar as vozes da oposição. Essa informação vai ampliar o público interessado nas informações da sua newsletter. Se Alckmin vencer esta eleição - e acho que vai - deveria erguer uma estátua ao prefeito Cesar Maia, no quintal da sua (de Alckmin) residência, como forma de agradecimento. Cesar Maia é, também, um dos mais ardorosos defensores da necessidade de “bater-se” em Lula com forma de vencer essa eleição. Não por caso uma das primeiras reações “oficiais” foi a clonagem de seu ex-blog.
Editado por Adriana às 7/26/2006 05:24:00 PM |
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