por Onofre Ribeiro Sinto-me no dever histórico de tentar retratar a figura do ex-deputado federal das Diretas-Já e do homem Dante de Oliveira. Convivemos ao longo de 27 anos a partir de 1979, mais tempo em posições contrárias do que na mesma posição. Porém, nunca perdemos o traço da civilidade democrática. Mas se tivesse hoje que pesar na balança quem foi mais generoso nesse tempo, diria que ele foi mais generoso do que eu. Fiz-lhe muitas críticas duras, muitas motivadas pelos excessos da juventude. Nunca sofri a mínima retaliação de sua parte. Fico pensando agora como ele se sentiria em relação a tudo aquilo. Dante nunca foi unanimidade por causa de suas posições abertas demais, que chocavam, no início, a conservadora sociedade mato-grossense. Talvez, por isso, minhas críticas fossem só numa gota d´água no oceano da sua vida política. No governo, sentamos-nos para conversar pela primeira vez em 1997, por iniciativa sua. Escrevi um artigo em “A Gazeta” criticando a falta de um planejamento estratégico para o estado de Mato Grosso, e ele convidou-me para almoçar na sua residência. Foi um longo almoço e uma longa conversa. Dias depois, um longo café da manhã. E, a partir daí sempre recebia convites para viagens, nas quais conversávamos muito. Eu mais ouvia do que falava. Ele elegeu-me para ouví-lo. Ele dava-me o espaço para comentários, mas falava muito mais do que eu. Aqui entra a parte de sua história que eu gostaria de resgatar nestes dois artigos. Dante puxava a sua equipe com suas idéias. Era um furacão de idéias. Conversava muito. Ouvia muito, falava alto, e se inquietava. Arrumava o aro dos óculos, mexia-se na cadeira e fazia gestos de inquietação. Com alguns membros históricos de sua equipe montada ao longo da carreira política e executiva, ele brigava muito. E eles quebravam o pau com ele. Não havia ganhadores e nem perdedores nesses embates com Valter Albano, Júlio, Guilherme, Frederico Muller, Maurício Magalhães, Antero Paes de Barros, Carlos Avalone, Thelma, entre tantos. Com muita freqüência, a luta era para convencê-los de que uma loucura de agora seria um fato consumado amanhã. Mas todos eles tinham por ele uma reverência. Gostava muito de festas. Mas no governo demorou muito para admitir que as festas de aniversário pessoais e familiares seriam um inevitável ponto de contato com as pessoas que o admiravam ou que gravitavam anônimas em torno do poder político. Mesmo no meio dessas festas, ele me abordava para discutir idéias. Ficávamos eu, baixinho, e ele altão, falando de coisas completamente despropositadas ali. Tive a oportunidade de escrever-lhe alguns discursos memoráveis, rascunhados junto com Maurício Magalhães. “Esses mineiros pensam com mais calma”, ele nos dizia. Mexia sempre no último parágrafo. Gostava da recuperação histórica dos fatos. Discursar fazia parte da sua doutrinação. Nos últimos anos, estava mais amadurecido do que ex-estudante que se iniciou na política em 1976, candidato derrotado a vereador em Cuiabá. Não criticava mais adversários além do tema político. Mesmo assim, era com cautela. O cabelo levemente branco e barba histórica aparada embranquecendo, cada vez mais tornava-se humanista. O espírito agressivo cedeu lugar a duas qualidades que admirava profundamente nele: a tolerância e a generosidade. Não se queixava das críticas e nem das acusações, porque visionário como era, acreditava em alguma coisa que eu não enxergava naquele momento. Foi assim que ele partiu. Deixou-se morrer...! Continua na terça-feira.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/09/2006 07:46:00 AM |
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