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FESTIVAL DE MENTIRAS
Por Alfredo Guarischi (*)

Acho que o tema sobre a luta contra a corrupção na política brasileira está velho, mas a Rede Globo acaba de prestar um serviço inestimável. No Globo Repórter de hoje (7 de junho de 2006) faz uma extensa e esclarecedora explanação sobre a mentira.
O programa teve um bom ritmo. Do folclore ao mais perverso resultado da mentira.
Apresentou um Festival de Mentiras no interior de São Paulo. Uma festa que premia quem contar a mais verdadeira mentira. A história do falsário que se fez passar por policial a filho de dono de companhia de aviação, gastando e namorando entre ricos e famosos, mas, finalmente, acaba preso. A “mentirinha” de namorados escondendo dos pais que vão acampar, culmina com a morte de ambos, conseqüente de um infeliz encontro com facínoras que passavam pelo local. O pai da jovem, de forma severa, olhar triste e falando a verdade, alerta de que a mentira, grande ou pequena, pode ter graves conseqüências. O mesmo ocorreu quando um empregado relata um roubo de bicicleta não existente. O seu patrão, em busca do suposto ladrão, atropela e mata uma inocente criança ciclista. O empregado mentiroso, com o rosto protegido pela penumbra, fez o relato. O pai da vítima está permanentemente na escuridão, pois, após o assassinato do filho, ficou cego.
A ciência busca soluções para entender a mentira. Alterações em exame de Ressonância Nuclear Magnética detectam a ativação de algumas regiões cerebrais, quando se mente. Um programa de informática, utilizado pela polícia gaúcha, detecta, através da análise da voz quando o entrevistado mente. A reportagem não apresenta detalhes do programa, mas o padrão de voz de um voluntário, falando de fatos verdadeiros - como seu nome - é comparado ao responder sobre fatos comprometedores, como “puxar o tapete” de um colega para obter vantagem. Nada mais atual este tipo de pergunta. Este programa seria um avança em relação aos tradicionais e controversos “detectores de mentira”.
Creio que faltou um pouco de política no programa. Teria sido interessante entrevistar quem não sabia, não sabe ou não quer saber de nada, apesar de falar de tudo, o tempo todo e somente de olho no futuro, sem pensar nos fatos presentes (verdadeiros) e esquecendo o passado (falso?). Esta minha sugestão foi fictícia. Juro que é verdade, mas me recuso a fazer o teste gaúcho – nunca se sabe. A mentira seria uma verdade que ainda não ocorreu, lembra a reportagem, e eu me esqueço o autor desta afirmativa. Juro que é verdade.
Os futuros candidatos a cargos políticos, em todo nível, deveriam ter assistido o programa, para ver algumas inconseqüências da mentira. Seria fantástico (Fantástico?) se a Rede Globo, que brilhantemente utilizou a habilidade em leitura labial dos surdos-mudos, nos divertindo sobre o que diziam os jogadores e técnicos na Copa da Alemanha, utilizasse a técnica de informática apresentada e analisasse a fala dos políticos em debates ou entrevistas.
“- Mentira Terta!”, diria o velho e inesquecível Pantaleão, o tipo imortalizado por Chico Anísio, que mentia sobre absurdos inocentemente. Hoje os absurdos políticos – mentiras - nos fazem chorar.
(*) Alfredo Guarischi é médico no Rio de Janeiro


Editado por Adriana   às   7/08/2006 11:13:00 AM      |