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CAMPANHAS MILIONÁRIAS AFRONTAM A MISÉRIA
Pedro Oliveira (*)

A suposta proposta como alternativa para tornar menos onerosas as campanhas políticas através da indecente e inócua reforma eleitoral está de vez sepultada na política brasileira com o anúncio dos gastos dos candidatos à Presidência da República. A todos surpreenderam os números apresentados ao TSE: A coligação de Lula, “A Força do Povo” (que não tem nada de povo, nem de força) declarou um gasto para a campanha de 89 milhões. Em 2002 o limite declarado foi de 56 milhões. Também há de se considerar que o PT ainda era pobre, não tinha dinheiro guardado nas cuecas, nas contas dos mensalistas, em bancos no exterior e nos cofres sujos com notas surrupiadas das verbas para ambulâncias, merenda escolar e alimentos para milhões de miseráveis. Já a coligação de Geraldo Alckmin, “Por um Brasil Decente” (que não reúne lá tanta gente decente assim), registrou um teto de 85 milhões para a campanha presidencial.
Tudo bem que não há de se comparar com o teto demagógico e até folclórico da candidata Heloisa Helena, 5 milhões cujo montante não vai dar nem para viajar de “pau-de-arara” pelo Nordeste em sua pregação beatificada, mas o montante assustou bastante. O ministro Gerardo Grossi, do Tribunal Superior Eleitoral, demonstrou sua indignação quando declarou: “A previsão para esta eleição é quase o dobro da previsão feita para a eleição presidencial de 2002, que foi uma eleição de muita gastança. Confesso que tomei um susto muito grande quando vi a previsão de gastos das campanhas eleitorais”.
O presidente em exercício da OAB, advogado Ercílio Bezerra também se indignou: “Os valores informados estão ai para encobrir as diferenças gastas por meio do Caixa Dois”.
Fico a me perguntar: Meu Deus o que se faria com tanto dinheiro? Quantas casas populares seriam construídas? Quantas cestas básicas para saciar a fome que consome milhões de brasileiros literalmente abandonados pelo governo que acreditaram? Quantas ações de cidadania poderiam ser promovidas?
Esta imoral reforma de faz de conta, que acabou com os showmicios, com os outdoors e brindes de campanha, ficou e de propósito, longe de perseguir a compra de votos, as negociações espúrias dos candidatos e lideranças políticas vendidas e prostituídas.
Os deputados e senadores não desejaram aperfeiçoar o sistema eleitoral, pois certamente as reformas mais efetivas lhes trariam “prejuízos” em suas campanhas e seus negócios sujos. A Justiça Eleitoral, que agora se indigna, foi conivente e partícipe da farsa que enganou mais uma vez o eleitor brasileiro, que vai às urnas repetir o de sempre: votar nos piores porque só eles são candidatos.
Por estas e por outras tenho que me curvar ao argumento o financiamento público de campanha. Por sinal lia, esta semana, um artigo que me chamou a atenção pelo seu equilíbrio e oportunidade, de autoria do senador Renan Calheiros que entre outros pontos dizia: “O financiamento público de campanhas, sem dúvida alguma, dará mais seriedade e consistência à própria vida partidária. Dirigentes serão escolhidos com mais critério pelas bases. O que um financiador de campanha entrega a uma pessoa desonesta é cobrado com juros e pago por todos em benefício de poucos. Ainda que custe dinheiro ao Estado, vale a pena pagar pelo financiamento das campanhas. É a melhor maneira de estancar a sangria dos cofres públicos e de se garantir a independência dos candidatos”. Renan lutou e não conseguiu aprovar o financiamento público, mas essa é uma luta que pode e deve prosseguir.
Um Brasil cheio de indignação e vergonha se pergunta: Ai estão milhões expostos pelos candidatos para gastos com suas campanhas políticas. Para negociar consciências, redutos eleitorais, currais de eleitores interior afora, mídia camuflada de imprensa bandida e comprada e para o povo vai o que?
(*) Pedro Oliveira é jornalista e presidente do Instituto Cidadão.


Editado por Adriana   às   7/08/2006 05:52:00 PM      |