por Villas-Bôas Corrêa em A Voz da Serra Nos três anos e meio do governo em que o recorde nacional de corrupção, escândalos, CPIs, denúncias, mensalão e caixa dois absolveu os ensaios de séculos de desvios do dinheiro público e das eleições maculadas pelo domínio dos coronéis e as atas falsas, a campanha que começou ontem promete, na aparente incoerência, a mágica reação moralizadora dos recursos controlados e gastos na caça ao voto, muito superiores aos das últimas orgias. Charada de fácil decifração. Basta analisar cada um dos itens do painel dos programas dos candidatos e os dados registrados na Justiça Eleitoral, fonte de surpreendentes ensinamentos. Vamos facilitar as coisas começando pelas declarações oficiais dos candidatos e reduzindo ocampo de pesquisas à dupla que, nas pesquisas, ocupa os cantos de governo e oposição. O presidente-candidato à reeleição demonstrou uma afortunada habilidade como investidor no mercado financeiro que, com o bafejo da sorte, favoreceu sua ascensão social de torneiro mecânico aposentado a membro ilustre da classe média alta ou, sem forçar a mão, dos novos ricos. Dos R$ 422.949,32 do registro de 2002, os ventos da bonança enfunaram as velas da prosperidade para dobrar os caraminguás poupados e investidos às alturas de R$ 839.033,52, que prometem bater no teto de um milhão, marca de milionário. Nenhuma suspeita de espertezas do gênero das artes dos delúbios e valérios que despejaram milhões para o financiamento da campanha de 2002 e a compra do passe de deputados, atraídos pela perdulária liberalidade do mensalão. Como muito bem explica, com autoridade moral comprovada, a nota oficial distribuída pelo PT, “a evolução patrimonial do candidato Lula, verificada entre junho de 2002 e agora, deve-se à poupança de parte do seu salário como presidente da República e aposentadoria, bem como aos rendimentos de aplicações anteriores a 2002, acrescidos da aplicação da aplicação da poupança mensal já referida em fundos de investimentos especificados na declaração entregue ao TSE”. Claro como água de fonte. Se o sortudo candidato ensinar ao povão a fórmula do enriquecimento não precisará prometer mais nada na campanha para ser eleito com votação tremenda. O Bolsa-Família pode gerar o milhão no bolso. O candidato tucano, Geraldo Alckmin, não fica abaixo de Lula apenas nas pesquisas, mas na declaração de bens. O seu patrimônio saltou de R$ 554.458,00 da declaração de 2002 para R$ 691.698,99 do registro no TSE. As previsões de gastos com a campanha, registradas no TSE pelos sete candidatos à presidência atingem a respeitável soma de R$ 279,1 milhões, muito além do que foi queimado nas fogueiras milionárias das últimas campanhas, desde a de Fernando Collor de Mello, em 1989. Sempre exagerados, Lula, o PT e aliados nanicos prevêem gastos de R$ 89 milhões, a serem arrecadados com as doações de empresas e pessoas físicas. Poucos degraus abaixo, o candidato do PSDB-PFL, Geraldo Alckmin, estima os gastos em R$ 85 milhões. Na faixa dos azarões, os totais oscilam entre R$ 20 milhões de Cristovam Buarque, do PDT, aos R$ 5 milhões de Heloísa Helena, candidata do PSOL. Os demais são figurantes da opereta do voto. A dança dos cifrões longe de denunciar mais uma farra de gastança no inchaço das previsões de gastos exibe, na dissimulação dos constrangimentos, um dos poucos, senão o único sinal estimulante do esforço moralizador do TSE para aplicar os remendos de última hora na legislação eleitoral e limpar a campanha da patusca intromissão dos marqueteiros na montagem de candidatos, transformados em fantoches nas novelas do horário eleitoral. E de expulsar da briga pelo voto o espetáculo dos shows gratuitos, com artistas pagos a peso de ouro. Além da poluição das cidades e de outras imundícies. É pena, de chorar as lágrimas da decepção antecipada, que a escovadela nas campanhas para mandatos executivos não se estenda ao Congresso, nos estertores da mais grave crise moral desde a derrubada do Estado Novo e a recaída da ditadura militar do rodízio dos generais-presidentes. O que se antevê na escuridão do horizonte é a indignada reação popular do inútil protesto do voto em branco ou desaguando na renovação inconseqüente da troca dos corruptos do mensalão e do caixa dois, da gatunagem das ambulâncias e demais patifarias pelos novatos sem experiências e com os mesmos desvios éticos de origem. Um tema para outra conversa.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/08/2006 03:29:00 AM |
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