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BALANÇO DOS 500
por Flávio Marcondes Velloso (*)

Entre a promoção global dos 500 anos de “descobrimento” e a análise mais séria do “achamento” do Brasil, como dizem os lusitanos, continuamos nós em “berço esplêndido”... Comparado aos Estados Unidos da América, nação tão jovem quanto a nossa e ainda um pouco menor em extensão territorial contínua, por que tanta e acentuada diferença?
De lado a polêmica sempre procedente, do ponto de vista nativo, de que essas terras não foram encontradas, mas verdadeiramente invadidas - junte-se aqui a parcela de culpa das missões evangelizadoras -, e nossos indígenas massacrados – eram mais de vinte milhões, hoje, menos de vinte mil, segundo cálculos estatísticos -, por que foi mal a dominação, mal a colonização, mal a independência? E de “mal a menos mal”, na expressão do presidente palaciano já sucedido, respeitante à atualidade?
Todos os brasileiros, no lugar de endeusar bandeirantes, deveríamos ter em conta o que fizeram os pioneiros nos Estados Unidos. Esses levavam para a nova terra a esperança de construir uma grande nação. Erguiam templos, fundavam escolas, cultivavam a terra. Aqueles, os bandeirantes, movidos pela ganância, pela febre do ouro, a chamada “auri sacra fames”, em seu nome fizeram de tudo e de todo jeito para que, uma vez enriquecidos, carregados, saciados na orgia dos trópicos, pudessem voltar ao reino. Com exceção, evidentemente, dos que aqui ficaram, engrossando as fileiras dos traficantes, escravos, náufragos, menos nobres e mais degredados da corte, mandados para “colonizar” essas terras diante da ameaça de invasão por outras bandeiras, todas do festejado mundo civilizado.
Eis a diferença fundamental entre uns e outros. Eis porque são os Estados Unidos da América tão desenvolvidos e o Brasil ainda por fazer-se. Faltou aqui o espírito de civilizar, a vontade de trabalhar com desprendimento, sem levar vantagem. Faltou aqui o mesmo espírito que, na conjuntura presente, por sua ausência, resulta em macular a história contemporânea, viva, alimentada de corrupção nos três poderes, os quais sustentam a nação. Ministros, parlamentares, magistrados e autoridades gerais concorrendo entre si nas páginas do desabono e do despautério. As instituições carcomidas, a nau à deriva. Os valores soltos. Os governantes alegando não ter dinheiro para providências prioritárias, muitas das quais emergentes, enquanto se afogam nas verbas que os elegem, os promovem, os nomeiam, os fazem a elite brasileira. Elite podre, diga-se, esquecendo-se de que, cedo ou tarde, insistindo em criar corvos, acabará tendo seus olhos comidos, como no ditado espanhol. Alguém duvida disso? Por que os carrões blindam-se? Façamos um exercício mental e procuremos enumerar uma lista mais extensa de personalidades íntegras do cenário nacional, estadual, municipal, pelas quais possamos colocar a mão no fogo...
Como é difícil identificar os honestos. Tanto na elite pública como na privada. Triste tempo vislumbrado e advertido por Ruy Barbosa em que os probos sentir-se-iam envergonhados dessa sua condição de carácter e de simplesmente agirem com inteira honestidade...
Contudo, e felizmente, os homens de bem, de boa vontade, também estão em toda a parte, sem excluir os poderes instituídos, a administração pública e a iniciativa privada. No Executivo, no Legislativo e no Judiciário como na sociedade em geral, a sua presença consola-nos. Mas consolo não basta. É preciso mais ação. É preciso ter a coragem de fazer valer os seus princípios. É preciso que cada um de nós lute, para que um dia alcancemos o patamar de um país mais justo, transparente, reformado e, então, possamos de fato comemorar, bater no peito e dizer sim, construímos uma nação, somos um povo educado, sadio, consciente, civilizado. O respeito, a cidadania, a integridade aqui são regras de conduta. Vencemos...
Só assim terá valido a pena. Só assim teremos motivo para exultar. Nesse dia olharemos as desigualdades, as injustiças sociais, os desmandos e desatinos de nossas elites, aquelas mesmas da situação e da oposição, enfim das desonestidades todas, pequenas e grandes, anônimas, sub-reptícias, às claras, escancaradas, como máculas da história passada. Nesse dia poderemos celebrar uma nova realidade. A nação brasileira que hoje sonhamos para todos. Porém, não sendo suficiente sonhar!
(*) Flávio Marcondes Velloso, professor de Direito da Universidade Lusófona de Lisboa, membro da Associação de Direito e Economia Européia da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, do Instituto Pimenta Bueno da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, da União Brasileira de Escritores, autor de "Direito de Ingerência por Razões Humanitárias", de "Tribunal Internacional de Justiça. Caminho para uma Nova Comunidade", dentre outros temas inéditos.


Editado por Adriana   às   5/24/2006 12:05:00 PM      |