Oficialmente apartidário, protesto no chamado Dia da Dignidade Nacional foi organizado em 22 cidades do País. Alessandra Pereyra e Clarissa Thomé
De ex-militante petista a representantes do movimento integralista. Tinha de tudo na passeata que parou a Avenida Paulista, em São Paulo, ontem à tarde. Durante duas horas e meia, pelo menos 3 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, participaram da manifestação que, oficialmente apartidária, exigiu reformas e o fim da corrupção no País. Organizados pela internet por meio do Movimento Reforma Brasil, os manifestantes atenderam à convocação para o chamado Dia da Dignidade Nacional. Saíram da Praça Oswaldo Cruz pouco antes das 16 horas e, ocupando duas faixas de trânsito, atravessaram a Paulista até a Rua da Consolação. Em seguida, retornaram à Paulista e encerraram o protesto em frente ao prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), depois de causar congestionamento em todo o trânsito da região. Vestidos de preto, com rostos pintados de verde e amarelo e levando bandeirolas do Brasil, os manifestantes atraíram a curiosidade dos paulistanos que tentavam esquecer a violência da semana na cidade. O protesto motivou simpatia e, também, desconfiança. "Quem será que está por trás dessa gente?", perguntou o taxista José Onório Fontes, de 42 anos. Difícil saber apenas acompanhando a passeata. Dezenas de faixas pedindo a saída do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se misturavam a cartazes cobrando ética e o fim da impunidade. Outras lembravam os escândalos do mensalão e das ambulâncias e a falta de credibilidade do Congresso. Entre os manifestantes, a maioria era da classe média, de diferentes faixas etárias. Havia pessoas de todas as cores partidárias, empresários, fazendeiros, sociólogos. Representantes do Movimento Integralista e Linearista, do Instituto Federalista e defensores do voto nulo. De consensual, apenas as palavras de ordem: "Fora, ladrões". "Estamos aqui porque não dá mais. Não sabemos em quem votar, nem para onde vamos", resumiu o o engenheiro de alimentos Humberto Abrami Filho, que tem 51 anos e, durante 21, foi filiado ao PT. "Precisamos de mudanças", completou a empresária Itajira Figueiredo, de 47 anos. O jornalista Jorge Serrão, de 40 anos, e o vendedor Rodrigo Petinari, de 26, estavam entre os organizadores."Queremos uma grande reforma no sistema eleitoral, tributário, judiciário e a reforma agrária. Somos um movimento de bem", explicou Serrão. Segundo ele, a sociedade tem de esboçar uma reação a tudo que acontece no País, independentemente de partidos de esquerda, centro ou direita. "A discussão que propomos é séria e profunda." O ato teve apoio de Clodovil e do rabino Henry Sobel. O Dia da Dignidade Nacional foi organizado em outras 21 cidades. No Rio, munidos de apitos e narizes de palhaço, cerca de 200 pessoas fizeram passeata na Cinelândia, em defesa da "dignidade nacional". O evento foi motivado pelo "cenário político do País, onde surge um novo escândalo por semana", segundo a estudante de direito Glauce dos Reis, de 22 anos, uma das organizadoras. "Hoje somos poucos, mas as diretas-já e o movimento que terminou no impeachment do Collor também eram. O importante é que as pessoas tenham espaço para dizer o quanto estão indignadas", disse Glauce. O evento reuniu atrizes como Christiane Torloni e Lúcia Veríssimo, parentes de vítima da violência, funcionários da Varig e servidores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). "Chegamos no limite. Nossa dignidade está em jogo. É indo para a rua que a gente modifica as coisas", disse Christiane.
Fonte: Estadão
Editado por Adriana às 5/23/2006 03:37:00 PM |
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