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O caburé embriagado
por Coligni Luciano Gomes
Crime e Castigo, expoente do romanceiro russo, descreve a angústia do homem diante do formidável peso da culpa. O ponto crucial da angústia do homem que matou para roubar se percebe no desabafo inconsistente que resume a trama e o drama que se desenvolve o romance: “Ah! O poder. Para alcançá-lo, basta abaixar-se”.
Num sentido ético-moral o poder é indissociável do dever. Se dever sem poder é inócuo, poder sem dever é iníquo. O poder embriaga os que não estão acostumados com ele; não transforma pessoas, apenas revela a verdadeira personalidade e caráter ocultos, como lobos na pele de carneiro.
É como a fábula do caburé que se escondeu nas asas da águia na competição sobre qual dentre as aves voaria mais alto. Quando a águia atingiu o seu máximo, o caburé, em sua esperteza iníqua, desvencilhou-se das penas e tentou voar alguns metros mais acima. Não contando com o excesso de luz e a falta de oxigênio da altitude embriagou-se (vertigem) e caiu. Contava com a fraude para vencer; e, ao subir, desceu. Se as alturas pertencem à águia, a noite é do caburê (ou caburé), cujo canto, segundo a crença popular, é sinal de mau agouro.
O Partido dos Trabalhadores, ante o insucesso das guerrilhas, greves irresponsáveis, invasões, e outras atitudes “democráticas”, escondeu-se entre as penas da esperança, camuflando suas arrogâncias personificadas; aquelas pisaram em tudo e em todos por se julgarem o monopólio ético-moral.
Foi só respirar o ar do poder e cair despudoradamente em defesa de pessoas envolvidas em escândalos e que integram o governo. Esses “loucos por CPIs.”, que deliravam em seus flamejantes discursos contra a corrupção, tentaram de todas as formas impedir a investigação sobre fatos largamente divulgados e tudo termina num conchavo de absolvição quase geral. Não se trata de pizza. É um verdadeiro banquete com direito a baile para bons equilibristas e péssimas bailarinas.
“In vini veritas” é um brocardo latino que traduzido e parafraseado serve bem para explicar o fenômeno do poder que embriaga e revela a verdadeira personalidade dos homens, tornando-os chorões, contadores de vantagem, valentes, inoportunos, lascivos, despudorados, violentos; enfim, perdem o brio e a dignidade.
Mas restam notícias alvissareiras como a de que nosso país está muito próximo de alcançar a perfeição na área da saúde. Ah! Ia me esquecendo; bravata também é sinal de excesso de álcool, digo, poder.
Quem aprecia boa música brasileira independente da época em que fez sucesso, há de se conhecer um conjunto denominado os Trigêmeos Vocalistas. Creio que cabe ao assunto o trecho de uma de suas canções:
Piou, caburê, oh! Lelê.
Lá no meu quintal.
Cruz credo! Eu falei, oh! Lelê,
Pra livrar do mal.
(*) Coligni Luciano Gomes é Delegado de Polícia e Mestre em Filosofia do Direito


Editado por Adriana   às   4/28/2006 10:21:00 AM      |