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A guerra dos números
por Giulio Sanmartini

Corria ano de 1986, a União Soviética ainda existia como potência mundial, era comandada pelo último Secretário Geral do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, Mikhail Gorbachev, o pai da “perestrojka”, do russo literalmente “reconstrução”. Concluíra-se que o sistema econômico adotado pela União Soviética em 1922, simplesmente não funcionava, portanto fazia-se necessária uma total mudança na economia nacional.
Nos seus complexos industriais, os soviéticos numa tentativa de acompanhar o desenvolvimento ocidental, deixavam mais ou menos de lado o item segurança, entregavam a coisa à sorte, mas naquela madrugada de 26 de abril, o vencedor foi o azar. Em Pripyat, lugarejo próximo à cidade ucraniana de Chernobyl, por um defeito no sistema de resfriamento, explode o reator n° 4 da usina atômica local, liberando na atmosfera toneladas de material radioativo, algo superior a 400 vezes o da bomba de Horoshima, o maior desastre desse tipo na história da humanidade. Os três reatores restante tiveram que continuar a ser utilizados pela falta crônica de energia. Em 1991, foi apagado o n° 2, em 1996 n° 1 e finalmente em 2000 o n° 1. No local da explosão foi construído um “sarcófago” em concreto no sentido de parar com a contaminação radioativa da atmosfera, obra de eficiência discutível haja vista que está apresentando rachaduras da ordem de 100 metros quadrados por onde “fogem” radiação e poeira atômica. Esse desastre que condenou um território de 3 mil quilômetros quadrados à desertificação e desabrigou 150 mil pessoas esta longe de chegar ao fim, para reparar o “sarcófago” são necessários 1 bilhão de dólares, dinheiro que a atual Rússia não tem disponíveis.
Além disso há um grande mistério: quantas foram as vítimas e quantos ainda irão morrer pela explosão do reator da quarta unidade de Chernobyl? É uma verdadeira guerra de números. Um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em setembro passado fala em 4 mil mortos.
Alguns meses depois, o Centro Internacional de Pesquisa do Câncer, diz que estes são 16 mil. Agelika Claussem, presidente da associação alemã dos “Médicos contra a guerra nuclear”, afirma que os dados na ONU não correspondem à realidade quando estabelece em 4 mil os casos de câncer na tiróide, estes seriam já 10 mil e passarão em breve a 50 mil. O diretor do Instituto para Energia Atômica da Rússia, Leonid Bolshov, tenta minimizar a tragédia afirmando que, Chernobyl foi somente um incidente técnico, seguramente não uma catástrofe, onde morreram somente 47 pessoas e nove meninos de câncer na tiróide. Todavia nada fala sobre os 600 mil técnicos, bombeiros e soldados que naqueles dias foram mandados à Chernobyl para reparar o desastre, desses 45 mil morreram e 120 mil estão inválidos.Para esclarecer essa guerra de números seria necessário fazer um comparativo dos casos de câncer nas regiões contaminadas antes e depois do desastre, mas esses números estão guardados a sete chaves nos arquivos de Moscou e considerados segredos de estado, fato que induz a acreditar que os números verdadeiros de vítimas. sejam os maiores.


Editado por Adriana   às   4/28/2006 10:31:00 AM      |