Entrevistas
Arthur Virgílio
Gerson Camata
Júlio Campos
Roberto Romano - 1ª parte
Roberto Romano - 2ª parte
Eluise Dorileo Guedes
Eduardo Mahon
p&p recomenda
Textos recentes
Arquivo p&p
  
XENOFOBIA BRASILEIRA
Por Ralph J. Hofmann

Uma das coisas que o brasileiro alega é que ninguém entende o modo de ser dos brasileiros. Somos uns incompreendidos. Nos ressentimos quando alguém toma São Paulo ou La Paz como capital do país.
Até certo ponto isto é correto, afinal, o Presidente dos Estados Unidos confundir Brasília com La Paz é dose. Confundir São Paulo com a capital brasileira já é menos terrível.
Mas quantas figuras públicas, da música ou da política nós já não ouvimos dizer que vão querer visitar a Europa e de lá seguir para Viena?
A verdade é que se os outros não nos entendem, nós não entendemos os outros. E cônscios da verdadeira importância do Brasil no mundo queremos que este veja as coisas conforme nossos costumes e conforme nossas leis tão falhamente aplicadas.
O húngaro Peter Kellemen, descreveu na década de sessenta o impacto da maneira brasileira de fazer as coisas no livro “Brasil para Principiantes”. Dedicou mais de um capítulo ao “jeitinho brasileiro”. Para tudo “dá-se um jeitinho”.
Kellemen entendeu o Brasil tão bem que o “jeitinho” o levou a ser preso por falcatruas num certo carnet.
Mas o problema é que além do jeitinho ter passado das medidas nos últimos anos, o brasileiro ainda espera ser entendido e acatado quando não entende a maneira de ser de outras sociedades.
Um exemplo: Um jovem brasileiro é encontrado morto numa rua inglesa, quase nu, ou seja, de cuecas e camiseta. A polícia e o escritório do legista não têm certeza do que envolveu esta morte. O legista, que é um magistrado, após ouvir todas as circunstâncias emite um parecer de morte com causas em aberto, o que significa que a polícia deverá investigar durante algumas semanas para ver se houve algum crime. Se alguém for preso pelo crime terá direito a que um legista contratado particularmente pelo acusado examine o corpo e suas partes para determinar se o seu cliente está sendo acusado injustamente. Na falta do corpo o processo poderá ser anulado devido ao fato de que o acusado não teve acesso a todas as provas que o condenariam. Portanto a liberação ou não do corpo é prerrogativa do legista/magistrado.
No caso deste jovem brasileiro, a família não quer ouvir os motivos, quer retirar o corpo. Tem acionado autoridades diplomáticas, tem procurado a imprensa inglesa, não quer nem saber qual é a lei. Faz questão de que as coisas sejam feitas conforme sua conveniência. Nem sequer entender certas diferenças de hábitos fúnebres. No Brasil o normal é o enterro dentro de 24 horas após a morte. Na maioria dos países do hemisfério norte o funeral é marcado para alguns dias depois, dando chance a todos os parentes chegar para assistir a cerimônia. Eu mesmo senti isto na carne. Meu pai faleceu quando eu estava a trabalho no Chile. Não havia como voltar em 24 horas. Não pude homenagear meu pai.
São diferenças com que temos de conviver. Mas quando este tipo de coisa acontece os brasileiros tendem a pensar que isso só ocorre porque era com o Brasil.
Bem, talvez seja mesmo. Com estas atitudes os de carregar o “jeitinho brasileiro” consigo a países extremamente sérios os viajantes também tem acumulado uma carga de má vontade.
Normal. Já repararam como no Brasil odiamos o “jeitinho argentino” nas nossas praias durante o verão?


Editado por Ralph J. Hofmann   às   11/25/2006 02:00:00 PM      |