Por Ana Maria Tahan no Jornal do Brasil
A prisão do deputado federal (ainda não diplomado) Juvenil Alves coloca em xeque, uma vez mais, a Justiça e seus preceitos. Em milhares de outros casos, políticos acusados ou respondendo a processos por crimes variados fizeram campanha, se elegeram e assumiram os mandatos. Juvenil foi detido pela Polícia Federal por chefiar quadrilha especializada em crimes financeiros. O bando teria provocado prejuízo de R$ 1 bilhão em operações de lavagem de dinheiro. Atuava em cinco Estados e no Distrito Federal. O quase parlamentar será empossado e terá gabinete em Brasília a partir de fevereiro do ano que vem. A lei entende que, enquanto não for julgado e condenado, com sentença transitada em julgado - sem possibilidade de recursos - Juvenil será inocente. O mineiro, o mais votado do PT estadual, tem escritório requisitado em Belo Horizonte. Especializou-se em abrir sociedade offshore no exterior, em nome de laranjas para ocultar bens que clientes brasileiros não querem declarar ao Fisco. Advogado, seu site oferece abertamente os serviços de fraudes contábeis. Faz tudo às claras. Ou melhor, quase tudo. Pelo menos o encontro que manteve alguns dias atrás com o ex-todo-poderoso do PT José Dirceu não espalhou por aí. Nem sobre o que conversaram. Mas isso, fica para destrinchar mais adiante.
O que é urgente debater, agora, já, imediatamente, é se vale a pena manter, pelo menos em política e no Congresso, brasileiros que fizeram de artigos do Código Penal um meio de vida e da atividade parlamentar um salvo-conduto para escapar dos processos e manter, com a imunidade, a vida criminosa em paralelo. É claro, ganhando mais e mais dinheiro. Juvenil, sabe-se, não é um caso à parte. No atual Congresso vicejam muitos outros casos como os dele. Está aí o deputado federal reeleito Jader Barbalho, que já foi governador, ministro e senador, a comprovar a tese. Agora é até conselheiro do presidente Lula, almeja a presidência do PMDB e só não disputa o comando da Câmara para não ficar tão exposto assim a cobranças da sociedade. Isso para citar apenas um. No Rio, o governador Sérgio Cabral indicou dois políticos, um eleito, outro não, com processos na Justiça. Escolhido para comandar a Secretaria de Trabalho, o deputado estadual Alcebíades Sabino é investigado por suposta compra de votos. O dos Transportes, ex-deputado Júlio Lopes, responde a processo por crime financeiro. Ninguém está dizendo que são culpados e os condenando a priori. O que se se discute é: se a maioria da população não tem contas a pagar com a polícia ou a Justiça, por que optar por alguns que deixaram rastros no passado ou no presente? Por que garantir candidaturas a quem tem contas a ajustar com a sociedade? Os brasileiros não devem pagar pelos entraves e atrasos judiciais que levam processos a perder qualquer corrida para tartarugas. Juvenil, Barbalho, Sabino e Lopes têm todo direito de manter a rotina. A culpa da situação em que se encontram, eternos suspeitos até prova em contrário, é das Justiças (Cível, Criminal, Eleitoral). E dos partidos. A estes cabe responsabilidade pela escolha de seus candidatos. Eles podem, e devem, fazer o julgamento político antes de apresentar sua relação de pretendentes a cargos eletivos nas campanhas. E precisam pagar sua cota por escolhas e indicações incorretas. Suspensão preventiva, como o PT mineiro fez com Juvenil, não quer dizer nada. Não tem efeito prático nenhum. É apenas uma forma covarde de livrar-se do empecilho do momento. Não basta. A hora de mudar é agora. Para quem em 2008, durante a disputa municipal, não se tenha de escrever tudo isso de novo.
Editado por Giulio Sanmartini às 11/25/2006 01:10:00 AM |
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