Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa
O Movimento Democrático nasce menos importante do que o deputado Roberto Freire (PE) imagina. Com 26 votos na Câmara, trata-se da sexta bancada da Casa, algo que, francamente, não é muita coisa. Os governistas do PMDB são pelo menos o dobro disto, independentemente de o partido entrar ou não para a base aliada institucionalmente. Além do mais, com a soma dos deputados do PTB, PP, PSB, PR, PRB e outros que vão ser obrigados a se unir por conta da cláusula de barreira, o Palácio do Planalto - se não fizer bobagens - constitui uma maioria expressiva dentro da Câmara. O MD não pretende se aliar ao governo, o que quer dizer que mesmo mantendo uma postura independente até mesmo em relação à oposição votará quase sempre com PSDB e PFL - a exemplo do que acontece com o PSOL. Considerando este aspecto e observando que a base aliada do Palácio é constituída em boa parte de partidos de centro-direita, se tem a descaracterização daquilo que por décadas se chamou de esquerda.
Só no Brasil, com um frágil quadro partidário e eleitoral, se conseguiria algo assim. As tendências se misturam e, em alguns pontos, se complementam. Veja-se o caso da França: Ségolène Royal vem como candidata ao governo pelo Partido Socialista, com o respaldo de todas as agremiações de esquerda, inclusive o Partido Comunista. São posições marcadamente distintas, claras ao eleitor. Demonstra que cada um abriu mão um pouquinho de alguma coisa em nome de um objetivo maior. Isto o cidadão entende e, principalmente, aceita. Aqui é esse embrulho capaz de colocar na mesma cédula um candidato a presidente pelo PSOL e um pelo governo pelo PFL. O próprio Movimento Democrático é contraditório em si mesmo: o PPS, que vem em linha reta do antigo Partido Comunista Brasileiro, se junta a dois partidos de centro, PMN e PHS. Mais curioso ainda é quando Roberto Freire afirma que a junção dos três se dá por afinidades programáticas. Estatutariamente, PT, PC do B, PDT, PPS, PSB, PSOL e PV - e, por que não?, PSDB - têm muito mais em comum do que com legendas de centro ou até mesmo de direita. O que impede tal coesão parece ser o eterno messianismo e a vitimização que caracterizam a esquerda. Impressiona como os partidos desta corrente política têm pena de si mesmos, assim como incomoda a incapacidade de acertarem pontos de contato. Falam as mesmas coisas com palavras distintas, mas um lado só aceita o outro se aquilo que lhe for dito soar como um pedido de desculpas por usar verbos, substantivos e adjetivos diferentes. A crescente possibilidade de vitória de Ségolène Royal tende apenas a agudizar a formatação caótica da esquerda brasileira. Nem se diga que na França o quadro eleitoral e partidário é mais enxuto e definido, resultado de uma tradição histórica que desde os tempos da Revolução vem sendo aprimorada. Isto poderia ser entendido assim se não existisse o fator humano. Que é realmente a grande diferença entre a classe política deles e a nossa.
Editado por Giulio Sanmartini às 11/21/2006 12:46:00 AM |
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