Por Wilson Figueiredo no Jornal do Brasil
É certo que falta convicção ao presidente Lula, mas não há como desconhecer que lhe sobram conveniências. Elas por elas. É na hora de fazer ministério que um presidente da República diz a que veio. O resto é conseqüência. Lula não se saiu bem no primeiro ministério e acabou se dando mal com a maioria parlamentar que o serviu, para dizer tudo em poucas palavras. Entre a eleição e a posse no segundo mandato, Lula já fez saber que não repetirá o erro de pensar o ministério em voz alta. Reserva-se, porém, o direito de praticar outros erros. O presidente já tem na cabeça, mas não fala claro, o espaço reservado ao PT no novo governo. A questão não se limita a reconhecer erros. Quer governar com os partidos. Falar em partido político no Brasil tem de citar o PMDB, que se considera com direito a participar de todos os governos. O que interessa a Lula é identificar a melhor maneira de evitar erros adicionais, tais como encarregar a Polícia Federal de promover escarcéu. Pega ladrão, grita o presidente. Para proteger reputações duvidosas, o presidente faz questão de provas. Não podendo provar que houve dossiê nem garantir que não houve, a investigação policial sai de fininho.
Sem necessidade de repetir o ocorrido no primeiro mandato, Lula está aberto a novos erros. Dos 33 ministros que superlotaram o primeiro ministério, 19 eram do PT e, desses, oito eram candidatos derrotados. Confirmaram a razão da derrota. Desta vez quem vai terceirizar o ministério, a crer no presidente, será o PMDB que já se declarou "mais interessado na qualidade do ministério do que na quantidade de cargos que lhe sejam postos à disposição". Não é bom sinal tanta pompa para tão pouca circunstância. Na manobra para abrir espaço ao velho PMDB e confinar o PT a menos metros quadrados de poder, o presidente precisará de reforço. Uma coisa é fogo amigo, como faz o PT, e outra é a algazarra de uma falsa oposição por parte de quem participa de todos os governos sem se responsabilizar por nenhum. O PMDB é sócio remido da atual República, com privilégios e sem nenhuma obrigação de acionista na hora do aumento de capital. Desta vez o PMDB está "mais interessado na qualidade do ministério do que na quantidade de cargos", mas no dialeto político convém entender o contrário para evitar surpresas. Pode Lula não estar interessado em errar, mas, se a premissa é a mesma, a conclusão não pode ser diferente. O presidente não respeita o ritual republicano. Ministério mal equilibrado atrai desastres. Apesar da experiência em lidar com os homens, que são a matéria-prima dos governos, quando voltou em 1950 - e pelo voto - Getúlio Vargas fez um ministério que, na falta de melhor, qualificou de experimental. Antes não fosse. Na seqüência, perdeu o governo e a vida. Como não aprendeu a demitir, Lula também não sabe nomear ministros. Por tudo isso, recomenda-se cuidado ao presidente para não enfiar o pé na jaca, essa armação da mídia que a TV Globo está lançando hoje para conturbar a formação do ministério. Lula insiste em criar mais expectativas do que pode atender. Terá aprendido que governo não é cabide de pendurar derrotados? Continua de pé a sentença segundo a qual quem não aprende com a História está condenado a repeti-la.
Editado por Giulio Sanmartini às 11/20/2006 02:06:00 PM |
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