Por Ralph J. Hofmann
O discurso a seguir foi lido em um estádio de futebol repleto, para onde 45.000 cidadãos da República de Panglosia haviam sido atraídos sob a alegação de que veriam o confronto entre a seleção de Panglosia e um selecionado de jogadores brasileiros que jogam na Malásia, Tailândia, Singapura, Camboja, Alto Volta, República dos Camarões e na Ilha de Miquelon ao largo do Canadá. O orador era o ex-presidente da Panglosia, três vezes eleito e empossado e três vezes destituído dentro de 48 horas, Jean-Jacques des Craquelures. Povo de Panglósia!
Estou novamente aqui defronte a vós para contar-lhes algumas constatações. Nesta ocasião sou insuspeito pois já esgotei a quota de eleições a que tinha direito. Sabiamente em Panglosia um indivíduo apenas pode se eleger presidente três vezes, não importando a quantidade de dias que fique no poder. Quero sugerir-lhes que é um momento para meditações profundas. Panglósia sempre se pautou por um comportamento PC, não PC da IBM, nem do tesoureiro de campanha brasileiro, que foi apresado quando se dirigia para cá para obter asilo político. Falo do Politicamente correto. Concluí que o politicamente correto é o ponto de vista em moda no momento. Está no olho do observador. Hoje chamamos nossos desempregados de sem-terra. Amanhã lhes daremos terra. Aí passaremos a chamá-los de “valorosos batalhadores oriundos das massas”. Os proprietários de latifúndios improdutivos, ou seja, aqueles que não tiverem terra naquele momento, pois suas terras terão sido tomadas pelos “sem terra” serão chamados de “escória da sociedade vivendo às custas do governo”. Se aqueles que perderem suas terras criarem negócios, indústrias e comércios, passarão a ser conhecidos como “capitães de indústria exploradores das massas”. Os poderosos líderes dos “sem-terra” de hoje esperarão que os mesmos tenham acumulado alguma “mais valia” e imediatamente os estatizarão, para que o povo seja dono dos meios de produção, afinal de contas, quem mandou ser competente. Podiam ter ido morar em tendas de lona preta e esperar um rancho do governo que é o destino de todos os mortais bem comportados. Antigamente eu me revoltaria ante tais situações, mas graças ao poderoso processo de reeducação pelo qual passei nesses últimos anos, em finíssimas instalações nas minas de sal Panglosianas, hoje sei que eu estava errado. Nossos líderes fizeram o que deviam. Cortaram a merenda escolar para melhor recompensar magistrados por decisões facciosas. Cortaram o pagamento aos policiais e militares para melhor participar de reuniões em Luxemburgo, Liechtenstein, Zurique e na Gran Cayman, sempre buscado o bem estar do povo. Cortaram o ensino de qualidade para poder ter dinheiro para que nossa juventude obtivesse um melhor conhecimento de dialética marxista, matéria essencial para a melhoria de nossa agricultura. Portanto meus caros amigos, exorto-vos para darem todo o apoio ao nosso grande líder Albert Uy, aquele que começou sua vida humildemente assaltando bancos (como o Camarada Stálin), e hoje está colocando no caminho do progresso nossa enorme pequena nação. Após este discurso, Jean-Jacques des Craquelures foi levado de helicóptero à Serra dos Macacos Mudos, Cegos e Surdos, onde segundo se sabe tornou se ermitão para melhor ponderar os mistérios do mundo.
Editado por Ralph J. Hofmann às 11/24/2006 11:31:00 PM |
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