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ONDE MORA O PERIGO. O GRANDE TEMOR DE LULA
Essa noite (tarde no Brasil), consegui estabelecer uma conexão Belluno – Cunha (SP) e falar com um amigo. Minha intenção era inteirar-me sobre a verdadeira situação no Brasil pela opinião de um experiente e brilhante jornalista.
“- Meu querido Italiano – disse ele – o grande temor do presidente é a apuração que periga acontecer, por Comissões Parlamentares (Cpis) das inúmeras e enormes falcatruas do governo, pois a cada dia que passa, mais difícil fica afastá-lo do envolvimento direto.”
O artigo abaixo de Pedro do Coutto, publicado na Tribuna da Imprensa, mostra os temores de Lula, que são exatamente aqueles citados por amigo de Cunha.

LULA QUER MAIORIA: DE DOIS TERÇOS
O presidente Lula decidiu empenhar-se intensamente para assegurar maioria no Congresso Nacional visando a seu segundo governo, mas a maioria absoluta não lhe parece suficiente. Esta maioria nunca lhe faltou ao longo de quatro anos. O Legislativo aprovou todas as medidas provisórias que editou, todas as mensagens que enviou, impediu a aprovação das matérias de autoria de parlamentares, mas que se chocavam com o seu programa administrativo.
A legislatura de 2003 que se encerra agora, em 2006, foi uma das mais tranqüilas com que um presidente da República se deparou, no Brasil, ao longo da história republicana. Calmaria no mar, céu de brigadeiro, como se costuma dizer, no espaço. Paz na Terra aos homens de boa vontade, diz a oração religiosa.
Luís Inácio da Silva não se deparou com qualquer problema na esfera do Legislativo, a não ser a formação de Comissões Parlamentares de Inquérito, mas que foram causadas por José Dirceu, Roberto Jefferson, José Genoino, Delúbio Soares, Sílvio Pereira, Duda Mendonça, episódio dos Correios, e a que decorreu do escândalo das ambulâncias. Nenhuma das duas atingiu Lula. Tanto assim que, em 2002, foi eleito por 62 por cento dos votos. E agora, em 2006, por 61 por cento.
O mesmo resultado, pode-se dizer sem medo de erro. Então, se não houve problema algum, por que o empenho intenso? A explicação só pode ser uma: o presidente da República luta para alcançar maioria, não somente a absoluta, mas a de dois terços. Isso porque, com margem de dois terços, o governo impede a orientação de Comissões Parlamentares de Inquérito. Estas CPIs, portanto, preocupam o Palácio do Planalto.
Mas não há motivo aparente. Devem, isso sim, estar preocupando mais o PT. Tanto assim que o presidente do partido, Marco Aurelio Garcia, admite a necessidade de a legenda abrir mão de postos na escala ministerial para dar mais espaço ao PMDB e, assim, assegurar a maioria dos sonhos dos governantes.
Como aquela que vigorou no ciclo do poder militar, surgida dentro da opção Arena e MDB, antes da criação do PMDB e do PFL, no final de 84, que garantiu a eleição indireta de Tancredo Neves e a posse de José Sarney na presidência da República. Maioria cuja solidez resistiu ao tempo e só começou a ficar abalada a partir da campanha "diretas já", levada às ruas em 1984. O PT teve forte presença nela, da mesma forma que o PMDB de Ulisses Guimarães, o PDT de Leonel Brizola.
A campanha emocionou e arrebateu a sociedade e o País. A sua seqüência foi a consagração de Tancredo Neves e sua escolha pelo colégio eleitoral de janeiro de 85. Hoje, o governo Lula estende a mão novamente ao PDT, superando a ruptura entre o Partido dos Trabalhadores e a agremiação de Brizola, que corre o risco de desaparecer com a morte do ex-governador e figura heróica da crise de 61, aberta com a renúncia de Jânio Quadros, cuja seqüência foi a posse constitucional de João Goulart. O PDT havia se afastado de Lula a partir de sua posse em 2003, mas a legenda brizolista já não era a mesma. Aliás, o PT deve muito a Brizola, por paradoxal que pareça.
Pois foi o apoio de Brizola a Collor, contra a CPI da Câmara que levou ao impeachment, que abriu espaço para legenda de Luís Inácio da Silva. Naquele momento, em 92, o PDT perdeu as ruas para o PT. Como em 68, nos Estados Unidos, com Lyndon Johnson na Casa Branca, os Democratas perderam o eleitorado para os Republicanos. Segundo publicou James Reston, então editor do "New York Times", numa noite, ao assistir ao programa do jornalista William Conkrite na TV, quando este condenou os rumos da guerra do Vietnã, Johnson disse: perdi, Conkrite. Perdi a classe média americana.
Conkrite era o comentarista mais considerado pela opinião pública do país. Agora, no Brasil, Lula tenta construir uma ponte ampla com o PMDB, outra, menor, é claro, com o PDT. PSDB, PFL e PPS estão fora de cogitações. Afinal de contas, tem que haver uma oposição. O PP de Maluf está incluído automaticamente no esquema de apoio parlamentar. As articulações terão êxito?
No sentido quantitativo, sem dúvida alguma. Mas isso não garante a existência de um projeto político, econômico e social definido. Estão sendo discutidos postos na administração, até aí tudo é fácil. Mas não basta. Para que a maioria se torne concreta e estável é indispensável a predominância de um programa definido que seja o denominador comum das legendas, mas também, e sobretudo, do interesse da sociedade.
Sem isso, nada feito. Haverá tranqüilidade institucional, sem dúvida, mas tudo ficará restrito ao marketing. É preciso mais que palavras e cargos. Mais do que entendimento de superfície. É preciso articulação concreta.
Não bastam intenções, por exemplo, como as que estão unindo, no Rio de Janeiro, o governador Sérgio Cabral Filho e o prefeito César Maia. Nem parcerias. Pois se estas resolvessem as graves questões que envolvem a cidade e o Estado, todos os problemas estariam resolvidos. Seria preciso apenas cordialidade e aproximação. Mas não é isso. É indispensável a existência de recursos financeiros e vontade política. Não se trata de maioria de dois terços, blindagem contra qualquer CPI. Mas de ir ao encontro da população brasileira, não só no RJ, mas em todos os estados. O desafio para Lula é exatamente este.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/21/2006 01:56:00 PM      |