Editorial no Jornal do Brasil
O governo do presidente Lula conseguiu uma notável proeza: afastar o prazer dos feriados da maioria dos brasileiros, especialmente daqueles que recorrem aos principais aeroportos do país para viajar. Pois graças à falta de investimentos e à interminável seqüência de erros do Palácio do Planalto, da Infraero e do Ministério da Defesa, os feriados tornaram-se símbolo do esgotamento da estrutura aeroviária. O colapso fez dos céus vazios, dos atrasos e dos prejuízos daí decorrentes fatos banais a serem enfrentados pelos passageiros - problemas, diga-se, que não se resumem mais aos dias de suposto descanso. Ontem, feriado pelo Dia da Consciência Negra, o Brasil voltou a ultrapassar a fronteira do absurdo. Infelizes espalhados pelos aeroportos de São Paulo, Rio, Brasília e Curitiba chegaram a esperar 10 horas por um vôo. Na média, os atrasos ficaram por volta de 60 minutos. Entre os motivos que fabricaram a onda de transtornos, um não poderia ser mais bizantino: o rompimento de um cabo de fibra ótica do Centro Integrado de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) 2, que coordena o espaço aéreo da Região Sul. O cabo se rompeu devido à queda de um poste depois de atingido por um raio, no temporal da tarde de domingo, em Curitiba.
Os atrasos de ontem atingiram o mesmo patamar daqueles registrados na semana passada, quando os vôos foram prejudicados pela ausência de dois controladores no Cindacta 1, de Brasília. Repetiu também as cenas exibidas nos feriados do dia 2 e do dia 15, quando o setor entrou em colapso devido à chamada operação-padrão dos controladores de tráfego aéreo - uma espécie de "greve", na qual foi restringido o número de vôos monitorados por cada profissional. É a prova da gravidade: a combinação entre más condições de trabalho dos operadores, deficiência de infra-estrutura e a mera queda de um poste. Neste caso, mais do que uma questão trabalhista ou um sintoma pontual da ausência de investimentos, está-se diante de um gravíssimo problema de segurança nacional. O espantoso é que essa constatação, a que chegaram todas as mentes sensatas deste país, não foi compartilhada até agora pelos integrantes do governo, a começar pelo ministro da Defesa, Waldir Pires. A soma de equívocos e inaptidão, estendida ao presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, adquiriu feições risíveis. O primeiro revelou absoluto desconhecimento do setor aéreo. O segundo insiste em ignorar a existência de uma crise. O principal erro do ministro foi julgar que lidava com um problema trabalhista. Mas não só. No rescaldo da crise, Waldir Pires mostrou que não tem a mínima idéia do que fazer. Falou, por exemplo, em "desmilitarização" do sistema de controle de tráfego aéreo. Em questão de minutos, chegou a defender que o novo sistema seria custeado com 2% a 3% do faturamento das companhias aéreas, sem considerar o efeito disso sobre as tarifas. Questionado, explicou que isso foi apenas um "palpite", para em seguida sustentar que o financiamento do sistema é responsabilidade do Estado. E por aí foi. Enquanto isso, o chefe da Infraero também segue exibindo disparates - como dizer que não há excesso de atrasos nos aeroportos. Entre palpites e disparates, não lhes devia restar outra opção que não fosse a demissão imediata. Dariam melhor contribuição ao país. Ainda que os brasileiros persistam a conviver com a herança maldita da falta de investimentos em infra-estrutura. Se continuar assim, logo virão crises semelhantes no transporte rodoviário e nos portos.
Editado por Giulio Sanmartini às 11/21/2006 01:45:00 PM |
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