Por Augusto Nunes no Jornal do Brasil O professor Marco Aurélio Garcia esbanja no momento a agressividade inconfundível de quem luta pela preservação do emprego. Deslocado nas últimas semanas para a presidência interina do PT, cuida ali de vigiar, por recomendação do chefe Lula, aloprados sempre à beira do descontrole. Não é esse o cargo que lhe interessa. O comando do partido é posto instável, sujeito a chuvas e trovoadas, que obriga o ocupante a tangenciar as fronteiras da marginalidade. A vida de que gosta Garcia é a garantida pela vistosa inscrição no cartão de visita: Assessor Especial da Presidência para Assuntos Internacionais. O empregão infiltra o dono no triunvirato que administra a política externa. Tem poderes equivalentes aos de Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, e Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Itamaraty. Com uma vantagem: está dispensado de miudezas burocráticas. Amorim tem todo o tempo do mundo para jogar conversa fora no gabinete presidencial, a poucos metros do próprio endereço palaciano.
Circunstâncias da campanha presidencial empurraram para o proscênio o insosso professor universitário – e Marco Aurélio Garcia mudou as técnicas de combate. Em defesa da boquinha recomendável a gente de paz, virou brigão de carteirinha. Um sargento Garcia que não mete medo em ninguém. Mas acha que mete. Deu agora de enquadrar a imprensa brasileira, alternando a lengalenga do mestre-escola com admoestações de quem esconde a palmatória na maleta puída. Consumada a vitória de Lula, exortou os jornalistas a uma “reflexão sobre o papel que tiveram na eleição”. Garcia acha que a imprensa foi injusta com o governo. Com o governo em geral, o PT em particular e, de modo especialíssimo, com os companheiros mensaleiros. “A chamada imprensa investigativa não conseguiu investigar nada, nem reunir provas consistentes contra nenhum dos acusados”, disse o candidato a mais quatro anos na folha de pagamento do Planalto. Cada um vê o que lhe convém, ensina o mestre Lula. Garcia não viu nada? O procurador-geral da República, Luiz Fernando de Souza, viu o suficiente para denunciar a “organização criminosa sofisticada”, chefiada por José Dirceu de Oliveira, coordenada por no mínimo 40 figurões federais e forjada para garantir 20 anos de poder a Ali Babá. Para Garcia, nada disso é relevante. Os liberticidas vão perdendo o pudor. Durante a semana, um delegado da Polícia Federal tratou como bandidos repórteres da revista Veja interessados na identificação de delinqüentes que o sherloque acoberta. Garcia não perde tempo com tais perfumarias. Nem permite a jornalistas perguntas sobre o que considera assuntos internos do partido. “Façam o seguinte”, ordenou, “cuidem das redações que nós cuidamos do PT”. Antes afável, Garcia deixou de sorrir. Mas o engessamento da musculatura facial talvez seja apenas outra prova de apreço ao governo. O Planalto jura que o programa Saúde Bucal é um sucesso. A dentição inferior de Garcia diz que não.
Editado por Giulio Sanmartini às 11/05/2006 05:27:00 AM |
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