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NÃO CALAR, NÃO CONSENTIR
Por Ralph J. Hofmann

“Este é o templo da inteligência. E eu sou o seu sacerdote mais alto. Sois vós que profanais este sagrado recinto. Ganhareis, porque possuis mais do que a força bruta necessária. Mas não convencereis. Porque para convencer é necessário persuadir. E para persuadir é necessário possuir o que vos falta: razão e direito em vossa luta. Considero inútil exortar-vos a pensar na Espanha. Tenho dito”.
(Miguel de Unamuno – 12 de Outubro de 1936)

A frase de Miguel de Unamuno foi em resposta a um general franquista, que nos primeiros meses da Guerra Civil da Espanha exortou os presentes a preferir a morte à inteligência.
Miguel de Unamuno, defensor do conceito de república havia até aquele momento apoiado o General Franco. Naquele momento, as bravatas arrogantes de um general invadiram suas crenças mais caras. Principal intelectual da Espanha não podia deixar passar aquele apelo à ignorância coletiva. Não se furtou a se manifestar. Passou os próximos três meses em prisão domiciliar onde faleceu. Calcula-se que tenha morrido de um coração partido ante à situação impossível de seu país. Rejeitava os comunistas que dominavam os Republicanos, mas também se dava conta de que os franquistas tampouco representavam uma solução feliz.
A Espanha foi o local do despertar de muitas das pessoas. As Brigadas Republicanas foram integradas por aventureiros mas também por intelectuais como George Orwell. Constataram que os comissários enviados por Stalin, os agentes do Comintern, não estavam tão interessados no combate quanto em selecionar quem assumiria o poder na Espanha após vencerem a guerra. Uma palavra desavisada, um ranço sobre a competência dos comandantes podia levar a uma bala na nuca.
George Orwell foi um dos que voltando dessa guerra tornou-se inimigo do comunismo. Não abandonou suas críticas à sociedade da época, mas também passou a criticar o stalinismo, particularmente em seu “Revolução dos Bichos”.
À época, a imprensa era francamente favorável às Brigadas Republicanas, e ao longo dos próximos quarenta e tantos anos de uma forma geral, salvo na própria Espanha, a imprensa sempre mitificou os sobreviventes desses combates, talvez com razão, pois sobreviveram tanto às ações dos nacionalistas quanto às dos republicanos seus comparsas.
Mas ao longo desses anos os países que cercearam a liberdade de imprensa também foram criticados. No Brasil a censura dos anos Vargas, a censura dos militares sempre são lembradas. Mas pouco se falada censura absoluta da Cortina de Ferro, da Cortina de Bambu ou de Cuba, apesar de serem amplamente conhecidas de todos.
Eis que o Brasil elege democraticamente, não uma vez mas duas vezes um governo com personalidades de matizes que vão do stalinismo ao trotskismo.
Essas pessoas se beneficiaram nos últimos vinte anos da liberdade de imprensa. Chegaram ao poder com um imprensa engajada em indicar os podres e erros dos governos desses anos.
Mas consideram axiomático, que seus comparsas não podem errar. São perfeitos. Portanto não geram notícias negativas. Portanto para que ter uma imprensa livre? Vamos ressuscitar então a censura. O governo decidirá quem pode escrever, o que poderá escrever. O governo decidirá o que é notícia. E ai dos infratores!
Vamos a mais uma frase do Miguel de Unamuno:
"Há momentos em que calar é mentir. Porque o silêncio pode ser tomado como aquiescência."
Senhores do governo. Ganharam a reeleição. Dêem-se por satisfeitos. Ficou óbvio de que as denúncias das malfazenças de agregados de seus ministérios não influenciam seu eleitorado. Apenas afetam as zelites. Caso contrário os senhores teriam perdido.
Portanto permitam que a imprensa siga policiando-os, pois até o momento os senhores não tem dado sinais de que prescindem de um fiscal que conte a verdade. Aliás permitam coisa nenhuma. Deixem de meter o bedelho. Recolham seus cães sarnentos, pseudo jornalistas e permitam que os interessados em informar-se tenham acesso a notícias que não sejam coloridas de tinta rósea..
E aproveitando, quem sabe vocês considerem a possibilidade de governar o país com eficácia em lugar de batalhar para criar um “Tausend Jahr Reich” (Reich de mil anos) qual Adolf Hitler.


Editado por Ralph J. Hofmann   às   11/04/2006 04:43:00 PM      |