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O ZIGUEZAGUE DAS REFORMAS
por Villas-Bôas Corrêa em A Voz da Serra
Por enquanto, a única mudança confirmada depois da estrondosa vitória de Lula é a do horário de verão, no próximo domingo, com o adiantamento de uma hora roubada ao sono.
No governo rola racha entre os que ainda não entenderam onde o presidente-reeleito pretende chegar com os sinais contraditórios e os que temem perder posições. A dúvida alimenta o banzé no PT, ou no naco separado do bloco que esperneia e exige ser mimado e a bagunça no núcleo que espera continuar, mas não sabe quem fica e quem cederá a cadeira aos novos aliados.
A quizília contra a imprensa veio mesmo a calhar para distrair os desavindos. Petistas ortodoxos e dissidentes divertem-se no bate-boca que se esvai na sangria das veias abertas. Para não perder tempo em circunlóquios, a ofensiva petista contra a imprensa, com o ranço ditatorial da tentativa de restabelecer um jeito novo de censura que acaba no DIP do Estado Novo, não interessa ao presidente-reeleito – sensatamente na contramão de um novo relacionamento com os meios de comunicação, como anunciou em reiteradas declarações e na improvisada entrevista coletiva tão logo foi oficialmente anunciada a sua vitória com mais de 58 milhões de votos.
Se vai dar certo ou se é o fogo que queima a palha, só o tempo dará a resposta. Confesso que tenho as minhas dúvidas. O temperamento presidencial que cunhou o modelo do primeiro mandato, com desempenho sofrível e final retumbante, traçou o ziguezague das hesitações e o pavio curto a explodir a cada trombada nas denúncias dos escândalos de corrupção que arranharam a porta do seu gabinete.
Não se muda da noite para o dia o jeito de ser de toda uma vida. O que também se aplica às suas reiteradas intenções para os quatro próximos anos de presidente dedicado a comandar a administração e as articulações políticas com os partidos e o Congresso. É programa para a estréia, até a recomposição ministerial e as rodadas de conversas com as lideranças partidárias para a montagem de confiável base de apoio parlamentar.
Estabelecida a rotina, tudo como dantes no Planalto. O presidente retomará as viagens internacionais e a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, tocará o bonde da burocracia. A anunciada troca de ministros para acomodar os aliados da reeleição não deve rolar além do Natal: Lula já emitiu sinais de que tem o esquema na cabeça; faltam os retoques e os rapapés protocolares das reuniões com os partidos. Esta lição Lula aprendeu: o presidente escolhe, convida os ministros; os partidos sugerem nomes.
O PT não preocupa o presidente. Só os grupelhos radicais e os medalhões pendurados no arame estrilam e levantam a poeira. Lula não está nem aí. Sempre soube que é maior do que o partido. E se não entra nas suas cogitações dispensar os serviços da legenda que fundou e carregou nas costas, não hesitará em cortar pelancas e carne para abrir vagas para os novos aliados do PMDB em tórrida lua-de-mel e demais legendas do buquê de camélias e madressilvas colhidas no campo.
De novo mesmo é a sua enérgica decisão determinando à equipe da área econômica – além da ministra Dilma Rousseff, os ministros Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles – que, no prazo de 15 a 20 dias, apresente o documento consensual com a fórmula mágica que viabilize o acelerado crescimento com a estabilidade econômica.
Neste primeiro mandato, Lula privilegiou a improvisação do estilo oral. O novíssimo Lula descobriu que acordos e alianças só são levadas a sério quando firmados em contrato escrito, o preto no branco. Uma novidade e tanto.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/04/2006 10:53:00 AM      |