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MÍDIA SEM MÁSCARA ENTREVISTA IPOJUCA PONTES - 1A. PARTE
por Redação MSM em 10 de novembro de 2006

Nota Editoria MSM
: Em entrevista ao MÍDIA SEM MÁSCARA, o intelectual Ipojuca Pontes fala sobre seu novo
livro, onde aborda a política nacional, cinema e a pesada herança que será deixada pelo governo Lula.

MSM - Seu novo livro, “A Era Lula”, lançamento de A Girafa Editora, aparece em um momento crítico da atual administração. O senhor acha que já é possível traçar um perfil deste governo e da herança que deixará para o futuro, independente da continuidade em um segundo mandato?
Ipojuca Pontes (I.P.) Como já foi dito, “A Era Lula – Crônica de um Desastre Anunciado” é o levantamento administrativo, político e ideológico do predatório governo petista. Nele, além de vincular a prática petista aos desmandos totalitários dos regimes soviético e cubano (que conheço com alguma intimidade), acompanhei quase todos os passos de Lula e seu governo corrupto e corruptor nos últimos quatro anos, mormente no que se refere ao desempenho do presidente que tornou-se um perito na arte de dizer uma coisa e fazer outra, vale dizer: mentir.
Quanto à herança que deixará para o futuro, especialmente agora que ganhou mais quatro anos na Presidência, creio que será a pior possível, visto que ele contaminou o Estado (em si, uma estrutura doentia) com o vírus do lulismo, um mistura do populismo demagógico (uma redundância) com a sanha do esquerdismo comunizante (outra redundância). Se não se criar uma oposição forte, analisando o dia-a-dia de forma didática e assumindo com determinação uma postura democrática e conservadora, dificilmente Lula (e sua gang) sairá do poder. Mesmo cometendo as maiores barbaridades. A alternância do poder para os socialistas-leninistas não existe. Como Chávez, Lula sempre arranjará um “meio” para ficar no centro do poder. O assistencialismo parasitário é um deles. Mas antes terão de criar dispositivos legais, o que não é difícil, para censurar a liberdade de imprensa e de expressão.
MSM - Vamos falar sobre o caráter totalitário do governo Lula. Até que ponto o senhor acha que essa administração é influenciada pelo caráter totalitário da esquerda, de forma geral, e da latino-americana em particular (de Chavez, Fidel e Morales)? Podemos aceitar a hipótese defendida por muitos socialistas de que é possível um governo socialista ser, ao mesmo tempo, seriamente comprometido com a democracia?
I.P. – O caráter totalitário da esquerda em todo o mundo, no plano administrativo, consiste em destruir ou perverter as instituições livres para se manter no centro do poder, com o conseqüente aparelhamento do Estado e o seu controle político e ideológico. É bom lembrar que no totalitarismo sempre prevalece, sem reservas, a supremacia da sociedade sobre o indivíduo e que, nele, o respeito ao estado de direito e as garantias individuais são considerados um preconceito burguês. Ademais, no avanço das esquerdas na América Latina há nuances de diferenciação, mas Lula, Chávez, Fidel e Morales são faces de uma mesma moeda. E o que os une, em larga escala, é o ódio aos Estados Unidos, um país ainda democrático, onde o direito a propriedade, por exemplo, não é encarado como um crime. Lá se consagra o esforço individual, o mérito e a criatividade que podem levar qualquer um à fortuna. O ódio aos norte-americanos nasce do fato de que o individualismo nos EUA suplanta, em larga escala, o coletivismo socialista.
MSM - Como o senhor vê os bastidores desse governo? Há mesmo uma influência de agentes externos (de Cuba, Venezuela)? Nossa soberania nacional pode estar comprometida pelos laços existentes entre a administração Lula e esses agentes externos?
I. P. - O filósofo Olavo de Carvalho já respondeu a questão, apontando o Foro de São Paulo, uma espécie de nova “internacional” comunista, como a usina de “idéias” e “projetos” que fazem, anualmente, a agenda dos governos e das centenas de organizações esquerdista na AL, inclusive as francamente criminosas, tais como as FARC e o MIR. Embora se diga o contrário, para essa gente não existe o conceito do Estado-Nação; tudo forma um só bloco ideológico, com o objetivo de “recriar na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu”. Quando Morales e Chávez resolvem se apossar das refinarias da Petrobrás, na Bolívia, a idéia de soberania nacional passa a ser figura de retórica. Não é em vão que Lula se recusa a ver no ato da posse das refinarias um assalto ao povo brasileiro e “entende” o gesto de Morales. Tudo foi articulado na agenda do Foro, cujo estratégia prioriza a questão energética no projeto de apressar na AL a criação de uma “União das Repúblicas Populares”, experiência criminosa banida do Leste europeu. Dizem que a África é, hoje, o continente perdido. Discordo. Sou mais a América Latina.
MSM - O senhor acha possível cultivar uma visão de nacionalismo que não seja simplesmente a repetição dos clichês anti-americanos difundidos pela esquerda?
I.P. - Na definição do Dr. Samuel Johnson, o lexicólogo inglês, o nacionalismo é o último refugio dos canalhas. Mas, hoje, considero o Estado-Nação um meio de se resistir ao jogo coletivista da farisaica ONU e seus aliados esquerdistas. O grande Eugênio Gudin, posto em quarentena pelas esquerdas, tem um livro notável sobre nacionalismo e patriotismo, de atualidade permanente, e que deveria ser reeditado. Ele revela que as esquerdas marxistas usam o nacionalismo para se apossar da credulidade passional das massas e depois se mostram “internacionalistas” para fomentar um “imperialismo às avessas”, um imperialismo da esquerda. Divino Gudin!
MSM - A mídia e uma parte da historiografia recente, de modo geral, fizeram com que a sociedade brasileira visse a administração Collor como exemplo de corrupção e má utilização da máquina pública. O senhor acha isso justo? É possível traçar um paralelo entre os supostos erros e crimes daquele governo e os do governo Lula?
I. P. - O governo Collor foi eleito, parcialmente, em cima do programa traçado por Margaret Teatcher para livrar a Inglaterra do buraco da estagnação provocada pela estatização e pela força predatória do sindicalismo corporativo. Na posse, Collor fechou dezenas de penduricalhos estatais (entre eles a corrupta e aparelhada Embrafilme), mantidos e mesmo ampliados na Nova República pelo coronelismo de Sarney e do Dr. Ulisses, (presidente paralelo) que usavam a máquina estatal para manter o empreguismo parasitário. E Collor - o que foi fundamental posteriormente - criou um programa de abertura e desregulamentação da economia que levou o País adiante (e que Lula, cultor do “Estado forte”, agora está destruindo com a ajuda do comunista Celso Amorim).
Ademais, posso garantir que não havia permissividade no governo Collor. Não existia mordomia, uso de cartão de crédito no escuro, o Palácio Planalto tinha apenas 420 funcionários (contra os 3.200 da Era Lula), não existia AeroLula e o déficit público chegou a quase zero. Eu, por exemplo, com poderes de Ministro de Estado, ganhava algo em torno de R$ 600,00. Sim, é fato: o clima era de completa austeridade.
Mas Collor, até por ignorância, não era um liberal e cortejava as esquerdas, mantendo grande parte dos seus integrantes na máquina pública. De fato, ele não estava em condições de aprofundar o avanço do capitalismo no Brasil, pois acreditava na “presença” do Estado. Sua pose de liberal era só casca, não tinha substância. Resultado: se ferrou. As esquerdas e os comunistas, com o “ajuda” do PC Farias, não tiveram muitas dificuldades para desalojá-lo do poder em menos de dois anos e meio. Além de fraco, não podia enfrentar, de uma só vez, Dirceu, Lula, USP, SNI, CNBB, UNE, sindicatos, a oposição dos partidos de esquerda e o furor da “onda vermelha” petista. Hoje, curiosamente, traindo o seu eleitorado e as reformas que encetou, Collor virou amigo de Lula - e vice-versa. Uma lástima!


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/10/2006 05:35:00 AM      |