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VOLTAIRE E O GOVERNO LULA
Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa

BRASÍLIA - A história é velha, mas merece ser lembrada. François Marie Arouet, o Voltaire, começava a ser conhecido em Paris como sarcástico e implacável crítico do clero e da nobreza. Certa vez tomou conhecimento da disposição do regente de economizar gastos públicos vendendo a metade das cavalariças reais. Sugeriu, então, que, em vez de livrar-se da despesa dada por milhares de cavalos, o governante poderia fazer economia maior: bastaria livrar-se de todos asnos que cercavam o trono, mais tarde ocupado por Luiz XIV.
A moda na capital francesa era de os nobres, artistas e escritores passearem aos domingos pelos Bois de Boulogne. Deparando-se com Voltaire, disse o regente: "Monsieur Arouet, vou-lhe proporcionar uma vista de Paris que o senhor não conhece. O senhor verá a cidade pela janela de uma cela, na Bastilha..." E lá se foi Voltaire para quase um ano na prisão.
Economizar livrando-se de asnos
Depois, arrependido, o regente mandou soltá-lo e, como compensação, baixou decreto concedendo-lhe determinada quantia anual do tesouro francês. O genial filósofo, que jamais conteve sua verve, escreveu carta de agradecimento ao monarca, onde dizia estar feliz porque a dotação do trono, a partir daquela data, responderia pela sua alimentação. Mas acrescentou: "Vossa majestade não se preocupe com minhas despesas de habitação, que destas cuidarei eu mesmo..." Viu-se condenado ao exílio, tendo que deixar a França para viver uma temporada na Inglaterra...
Por que se conta o episódio? Porque querem levar Lula a cortar gastos públicos, à maneira da metade das cavalariças do regente. Melhor seria economizar livrando-se dos asnos, daqueles que proporcionam benesses aos especuladores. Já vamos para mais de um trilhão de reais de juros devidos aos títulos da dívida pública. Sem esquecer os juros da dívida externa.
Agora que está prestes a começar o segundo governo, a solução para fazer caixa e investir em obras de infra-estrutura e em justiça social poderia repousar, por exemplo, na extinção da isenção de impostos para quem, no exterior, compra e vende títulos brasileiros. Outra iniciativa poderia ser a proibição de vultosas remessas de dólares para o estrangeiro, por cidadãos e empresas brasileiras. Que o dinheiro brasileiro fique ou volte para cá, aplicado na atividade produtiva, contestada apenas a posse de recursos adquiridos ilegalmente. Como adendo, limitar a remessa de lucros de multinacionais aqui instaladas para suas matrizes, fixando-se percentuais a ser reinvestidos entre nós.
Fica, para economistas, o monte de outras soluções capazes de gerar recursos para o governo Lula retomar o crescimento econômico sem necessidade de despedir funcionários em massa, muito menos de reduzir ou extinguir programas assistenciais, ou deixar no abandono políticas e serviços públicos essenciais. Tudo sob a inspiração de Voltaire.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/10/2006 01:36:00 AM      |