Por Onofre Ribeiro
Assisti, na Federação das Indústrias, nesta quarta-feira, à apresentação do presidente da América Latin Logística, empresa que adquiriu o controle acionário da Ferronorte. O encontro foi solicitado pelo Fórum Pró-Ferrovia, coordenado pelo vereador cuiabano Francisco Vuolo. O presidente da ALL, Paulo Basílio, é um jovem executivo, prático, objetivo e direto. Ouviu discursos e não se entusiasmou com os argumentos das aspirações históricas de Cuiabá por uma ferrovia, em particular esta que está emperrada em Alto Araguaia há cinco anos. Antes ela esteve emperrada em Alto Taquary por mais tempo. Só para localizar o leitor na geografia, Alto Araguaia fica na divisa Sul de Mato Grosso com Goiás, a 400 km de Cuiabá, e Alto Taquary fica 90 km Oeste dali, no alto do chapadão.
O presidente da ALL foi claro. Está sendo contratado um estudo de viabilidade econômica que deverá ficar pronto até dezembro. Vai determinar se haverá ou não vantagem econômica e estratégica de se estender os trilhos além de Alto Araguaia, até a rodovia BR-163, próximo a Rondonópolis. Digamos que o estudo diga que sim. Nesse caso, a ALL vaio procurar um “funding”, que é um tipo de financiamento em condições especiais, do tipo para 30 anos, com juros baixos. Este tipo de financiamento público não existe no Banco do Brasil, nem no BNDES. Já é a segunda variável complicada. Porém, a empresa vem uma tradição longa e tem muito crédito. Nesse caso, poderá alavancar o “funding” fora do Brasil, através de composições financeiras ou acionárias. A partir daí, com o projeto de viabilidade e o “funding” positivos, a empresa deverá requerer o Estudo de Impacto Ambiental para começar a obra. Coisa de muito tempo tudo isso. Mas a questão que se levantou depois da exposição é muito clara e simples. A ferrovia hoje não consegue transportar mais de 60% da demanda de carga, que acaba desviada para o frete rodoviário, caro e ineficiente. Ainda assim, ela dá um desconto de frete de no máximo 10% mais barato do que o rodoviário, quando seria de se esperar, no mínimo, 30%. Logo, não há muito interesse e nem pressa da ALL em mexer no time que está ganhando. Lá na ponta, os portos são insuficientes para a descarga. Então, parece claro que o maior interessado mesmo na ferrovia e, ainda mais, para que ela chegue a Cuiabá, é mesmo o mundo político cuiabano. O prefeito Wilson Santos argumentou que Cuiabá responde por 30% da economia estadual, e o sub-secretário de Indústria, Comércio, Minas e Energia, Epaminondas Conceição, defende que pelo Distrito Industrial de Cuiabá passam diariamente de 8 a 10 mil caminhões, transformando a capital num centro natural de concentração e distribuição de carga. Embora argumentos sejam argumentos, as empresas raciocinam friamente sob a ótica dos resultados. A ALL está trabalhando bem, está ganhando bem, está transportando o máximo que pode pelo preço que quer, não parece muito inteligente esperar que ela se movimente e invista para chegar a Rondonópolis nos próximos anos. A Cuiabá....nem pensar nesta década!
Editado por Giulio Sanmartini às 11/10/2006 01:24:00 AM |
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