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IMPRENSANDO A IMPRENSA
Por Guilherme Fiúza em no mínimo
A massa esperava excitada a chegada do presidente reeleito ao Palácio da Alvorada. De repente, avistou o inimigo. Passou então a insultá-lo em coro, intimidá-lo com empurrões, ameaçar linchá-lo.
O inimigo, armado de câmeras e bloquinhos de papel, era a imprensa. A massa, composta em sua maioria de militantes do PT e funcionários públicos, certamente ecoava as palavras de Lula no discurso da vitória. O presidente estava exuberante e foi claro: confraternizava-se com o povo, ou melhor, com o povo que aprovara o que ele fizera nos últimos quatro anos – apesar de ‘instado’ a se voltar contra o governo.
De um só golpe (talvez fosse melhor evitar esta palavra), Lula abria duas feridas: de um lado, trocando o estadista pelo militante, dividiu o eleitorado entre ‘nós’ e ‘eles’; de outro denunciava uma conspiração dos que ‘instaram’ o povo contra ele – ou seja, a mídia.
Na Venezuela, a guerra e o governo populista e a imprensa golpista aniquilou a opinião pública. A circulação da informação passou a ter tanto valor quanto a troca de pedradas na Faixa de Gaza. Ou seja: na sociedade não há mais massa crítica, apenas massa de manobra.
No auge do mensalão, Lula disse que no Brasil, como na Venezuela, o governo popular estava sendo sabotado pela direita. Uma comparação equivocada e perigosa, com a qual o presidente parece sonhar.
No início desta segunda etapa da Era Lula (quantas serão?), enquanto o noticiário se distrai com esta conversa renitente e inútil do crescimento, a grande batalha que se impõe é a da informação. Lula já mostrou que continuará o bombardeio de versões, como quando declara que seu governo estabilizou a economia. Já a oposição indica que vai insistir na ladainha dos juros, tentando passar a impressão de que a culpa é de Lula. Já já, a informação vai estar valendo tanto quanto uma pedrada.
Lula afaga o povão, não fala mais de um minuto sem pronunciar a palavra ‘pobres’ e repete o mantra hipnótico da tal reforma política. Ingredientes perfeitos para convocação de plebiscito e mudanças de regra da democracia. O espírito de Hugo Chávez paira sobre Brasília.
No final de seu discurso, Lula falou em governar para todos (depois de distinguir seus eleitores dos demais). Anunciou também que passará a dar entrevistas coletivas, mudando a relação com a imprensa. Por outro lado, não para de falar em ‘democratização dos meios de comunicação’, eufemismo que neste contexto, como se sabe, significa controle da mídia – segundo o famoso manual de Dirceu, Gushiken e Tarso Genro.
O Brasil ainda não é uma Venezuela. Mas simpatizantes do presidente já agridem jornalistas a céu aberto. Ou seja, estamos chegando lá.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/01/2006 01:17:00 AM      |