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FAXINA PARA ARRUMAR A CASA
Por Villas-Bôas Corrêa em no mínimo
Como é absolutamente natural e no formato do louvável costume, a festa contínua para os vitoriosos estica a justa euforia no estouro dos foguetes que sobraram e até na encenação de arrumar móveis para a futura temporada.
A experiência, temperada pela ansiedade, ensina que recordes de votação são excelente material para compor os gráficos que enchem as páginas disponíveis dos jornais e revistas e acariciam os egos dos campeões nacionais e estaduais nos cumprimentos dos amigos, que inflam com o fermento da euforia.
Mas, a ebulição dura pouco, logo a chaleira se esvazia com a evaporação do líquido. Chega esbaforida até a posse e mingua a partir do dia seguinte, quando o governo começa a montar a estátua que desafia o tempo: amassa o barro, esculpe no mármore e no metal o monumento para a posteridade.
O presidente-reeleito tenta organizar o calendário para os dois meses de transição para conter o estouro dos afoitos. Mas, ele próprio, o grande vencedor não consegue dominar-se e já escorregou em venais pecados do açodamento, como na resposta dura à provocação do seu antecessor, o ex-presidente FHC, que não fez mais do que usar e abusar do direito de espernear.
Ora, em boca fechada não entra mosca e nem sai o sopro que aviva a brasa da frivolidade alheia. Nada é mais mortal para a vaidade do sociólogo do que o silêncio que abafe os seus estrilos.
No rebuliço da festança, os milionários de votos dissipam o cacife dos primeiros colocados nas listas dos mais votados. E não adianta tentar economizar na hipocrisia da modéstia, mais falsa do que perfume de camelô de beira da calçada.
O conceito do governo é montado dia a dia durante os quatro anos de mandato. E, soprado os confetes dourados da fantástica reeleição – com mais de 58 milhões de votos, acima de 60% – o diploma vira quadro na parede e o índice que passa a valer é o da aprovação do desempenho, conferido pelos êxitos objetivos da rotina administrativa.
Três merecidos dias de descanso devem ajudar o presidente a amadurecer decisões importantes para a costura dos acordos e dos acertos para a arrancada em 1° de janeiro, no bis da posse. Algumas advertências alertam para os cuidados com a louça. Na campanha, o candidato esbanjou promessas sob o estímulo da disparada dos seus percentuais. E, no alvoroço do oba-oba, destaque para o maneiro ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que proclamou “o fim da era Palocci” com “a preocupação neurótica com a inflação”. Há sempre um mico solto na loja de louça.
No mea-culpa dos enganos no aprendizado do primeiro mandato, Lula anunciou o convite a todos os 27 governadores eleitos ou reeleitos para a rodada inaugural do modelo recauchutado. Na pauta, a conversa de sondagem sobre a ambiciosa pauta das reformas – que empacaram no Congresso ou engasgaram no governo nos três anos e 10 meses do mandato expirante.
Abrem a lista às reformas tributária, fiscal e a complicadíssima reforma política, reduzida depois de severo regime de emagrecimento, à cláusula da fidelidade para evitar o vexaminoso troca-troca de partidos; às barreiras para reduzir o inchaço do quadro partidário e mais alguns remendos.
E a crise ética e moral que corrói a autoridade do mais impopular Congresso “de toda a história deste país?” Nem uma palavra. É vespeiro em árvore que se evita passar por baixo; caixa de marimbondos que se dá volta para fugir das ferroadas.
Discreto, o derrotado Geraldo Alckmin some do palco.
Só a vitória tem festa: o insucesso não se comemora.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/01/2006 01:10:00 AM      |