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NO TRAÇADO DO INIMIGO
Por Dora Kramer em O Estado de São Paulo
Semana final de campanha, eleição praticamente definida, uma dúvida se apresenta: e se José Serra fosse o candidato da oposição, o resultado seria o mesmo, o presidente Luiz Inácio da Silva teria um favoritismo assim tão acentuado?
Talvez sim, mas caso Serra tivesse, como Geraldo Alckmin, conseguido passar para o segundo turno, certamente o PT não poderia, contra ele, adotar o mesmo tipo de estratégia com a qual pôde traçar do adversário o perfil que lhe foi mais conveniente.
Pelo simples motivo de que o agora governador eleito de São Paulo já dispunha de prontuário (no bom sentido) próprio junto à população. Verde ou amarelo, torto ou direito, amargo ou doce, amado ou detestado, as opiniões a respeito de Serra são as mais diversas, mas pelo menos existem.
Em relação a Alckmin, porém, quase ninguém fora de São Paulo sabia coisa alguma. E, convenhamos, no dia 1º de outubro a grande maioria continuava sem saber muito além de que é médico nascido em Pindamonhangaba, herdeiro político de Mário Covas, que construiu 19 hospitais, tirou 70 mil bandidos das ruas e baixou impostos em São Paulo.
Sobre suas qualificações específicas para presidente, quase nada além da figura de porte confiável, linguagem correta, vocação para gerente e compreensão pelos anseios dos jovens por mais trabalho, saúde e educação de qualidade.
Quem votou nele - e foram muitos mais além do esperado e do registrado nas pesquisas - não o fez por aqueles atributos, mas por desejo de ver Lula fora da Presidência da República ou, senão, de levá-lo disputar um segundo turno de modo a reduzir um pouco o nível de onipotência no sangue.
Até então o PT havia menosprezado o adversário, preferindo concorrer com o fantasma de Fernando Henrique Cardoso. Entrou na etapa final, entretanto, fazendo o que o PSDB não fez nos preparativos da disputa com Lula: construiu um personagem de perfil bem definido.
Carrasco dos pobres, vendilhão do patrimônio nacional, exterminador de direitos trabalhistas, tudo o que foi dito a respeito de Alckmin nas últimas duas semanas mereceu crédito de boa parte do eleitorado.
Foram inúteis, por tardias, as negativas. Inócuas também as tentativas algo pueris de fixar uma idéia - como a pose vestindo boné e jaqueta de empresas estatais para 'provar' seu apreço a elas.
O estrago fez-se no vácuo. Se alguém disser hoje que o candidato tucano pretende acabar com o 13º salário no dia seguinte à posse na Presidência, o caro leitor não tenha dúvida, soará verossímil aos ouvidos menos avisados.
E, por desavisados, entenda-se a maioria que não foi devida e competentemente comunicada a respeito de quem é mesmo Geraldo Alckmin. O PT percebeu a lacuna e preencheu o livro em branco de acordo com suas conveniências eleitorais.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/24/2006 08:59:00 AM      |