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LULAS AO GOSTO DA FREGUESIA
Por Augusto Nunes no Jornal do Brasil
Encerrada a conversa com jornalistas da Folha de S.Paulo, o presidente Lula fez a promessa: “No segundo mandato, vou encher o saco de vocês de tanto dar entrevista”. Se fossem dispensados de preocupações com o destino do país (e se promessas de Lula merecessem algum crédito), todos os profissionais de imprensa deveriam torcer pela reeleição. Luiz Inácio Lula da Silva é figura que ajuda a aquecer qualquer noticiário político. É diversão garantida.
A constatação é sublinhada pelo palavrório do candidato ainda aturdido com o segundo turno que não previra. Um eventual triunfo de Geraldo Alckmin, disse há dias, “seria a “vitória do mal maior”. O repórter se esqueceu de lembrar-lhe que estava admitindo também representar o mal – menor que o outro, certo, mas ainda assim integrante da tribo antagônica à dos homens de bem.
Ocorre que o mal menor é o campeão do paradoxo. E se acha o máximo. Um Getúlio que, além de Pai dos Pobres, é a Mãe dos Ricos. Um Juscelino melhor no xaxado que na valsa. Um Jânio que nunca bebe mal. The best, desde as caravelas. E em qualquer terreno.
Até no pântano, recitou mais uma vez durante o debate de quinta-feira. “Se as coisas estão aparecendo agora, é porque o governo, como em nenhum outro momento da história deste país, está apurando”, fantasiou no estúdio do SBT. O homem apavorado com a gestação da CPI dos Correios, quem diria, transformou-se em escravo da lei.
Por falta de ensaio e vocação, o ator trágico anda tangenciando a comicidade. Foi tão engraçado quanto penoso vê-lo recordando, no Roda Viva da TV Cultura, o diálogo em que teria enquadrado Ricardo Berzoini, um dos chefões da quadrilha do dossiê. Até então, o companheiro deixara o comando da campanha por excesso de atribuições.
“Chamei o presidente do PT e perguntei: quem fez essa burrice?”, puxou pela memória o candidato. “Ele me disse que não sabia. Falei: ‘Ricardo, você, que é o presidente do partido, tem obrigação de apresentar à sociedade brasileira a resposta’. Ele não deu, e eu o afastei da coordenação da campanha”. Decididamente, Lula é único. E dúplice.
Depende do freguês. Há o Lula que se irrita com um presidente de partido que alega ignorar patifarias das quais foi testemunha privilegiada ou cúmplice. E há o Lula que se irrita com quem acha espantoso um presidente da República desconhecer bandalheiras ocorridas a centímetros do próprio nariz. Aquele acredita que os brasileiros merecem esclarecimentos imediatos. O segundo avisa que o escândalo do dossiê será apurado “em 10 dias, 10 meses ou 10 anos”.
O bando com lama pela cintura inclui o companheiro Berzoini, o segurança de estimação, o churrasqueiro predileto, o maridão da secretária-particular. Só amigos de fé. Só gente com direito a visitar sem aviso prévio o apartamento da Primeira-Família em São Bernardo. Para qualquer lado que se olhe, aparecem petistas com mãos sujas. Mas Lula ainda insinua que tudo foi armado por adversários. Em vez de dizer de onde veio o dinheiro, trata de safar-se com um argumento pueril: foi ele o maior prejudicado pela história.
Foi porque o golpe falhou. Se tivesse funcionado, outro churrasco da grife Lorenzetti estaria festejando, neste domingo, o triunfo da esperteza já no primeiro turno.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/22/2006 03:07:00 AM      |