Por Adriana Vandoni
Conversava com um amigo, vereador de quatro mandatos de uma importante cidade de Mato Grosso, sobre nossos ídolos e nossas lideranças. Até então eu tinha comigo, que estávamos passando por uma entressafra daqueles “grandes líderes” e o meu amigo dizia isso mesmo. Desencantado com quem ele acreditou e por quem trabalhou nas ultimas eleições, estava naquele momento se rebelando contra o maior poder do estado, o governador. No meio da nossa conversa eu parei e disse: Estamos errados! Veja você, vereador pelo quarto mandato e enfrentando o governador recém reeleito, se mantendo firme nos seus princípios.
Em um mundo em que os atos se propagam com uma velocidade incrível, em que as verdades aparecem em monitores com simples cliques, jamais teremos lideranças como as do passado. Lula, por exemplo, ainda foi forjado na falta de informação do passado, mas hoje a tecnologia dificulta que se crie uma aura de luz e perfeição em torno de um político. Hoje os pretensos reis ou líderes já não vestem as roupas da desinformação alheia. Não chegam a ficar nus, mas a camada que os envolve é de um fino, delicado e vulnerável tecido. Continuando nossa divagação sobre líderes e observando o ocorrido agora aqui em Mato Grosso, concluí que o líder do futuro é exatamente aquele que, com responsabilidade e respeito, se mantiver coerente e leal. Lealdade é diferente de fidelidade, daí a minha teoria de que uma reforma política que imponha a fidelidade partidária não conseguirá acabar com a falta de lealdade. O líder leal é aquele que não abandona e nem trai a confiança do seu povo. Aquele para quem a lealdade é um valor inegociável. As eleições deste ano me serviram para isso. Diante dos meus olhos vi cogitados líderes se despirem da dignidade e vi também muitos, aos quais não imputava grandes compromissos de lealdade com seus eleitores, se engrandecerem através das posturas adotadas. É, pelo menos para isso serviu a decisão de Blairo e seus subordinados. Bem, a mim não causou espanto algum sua decisão e nem representou uma mudança de lado, afinal de contas, eu já sabia desse acerto desde o começo do ano, através de fonte de dentro do seu próprio grupo. Mas temos que enaltecer as atitudes daqueles que se mantiveram firmes. Daqueles que não se sujeitaram a simplesmente abaixar a cabeça como cordeiros e engrossar a fila dos acéfalos seguidores da amoralidade. Percebi nesse processo todo que os que ficaram para defender o indefensável e incoerente posicionamento de Blairo, não são, em sua maioria, seus seguidores, são seus subordinados. Chegou-me a notícia do pronunciamento de um vereador de Matupá, que da Tribuna da Câmara pediu desculpas a todos aqueles a quem pediu voto para Blairo Maggi. Disse que se sente traído pelo governador e terminou dizendo que em suas veias corre sangue e não trairagem. Admirei-me com a postura deste vereador sem ao menos saber quem é ele nem a qual partido é filiado, mas mostrou que não é um cordeiro. O mesmo aconteceu aqui em Cuiabá com o recém eleito deputado estadual Walter Rabello. Filiado ao PMDB, não me despertava esperanças, mas agora me surpreendeu. Não pelo número de votos, mas por não se deixar colocar cabresto. Rabelo está em um partido dominado pelo retrógrado Carlos Bezerra, um dos últimos suspiros do coronelismo em MT e pelo flexível Silval Barbosa, agora vice-governador. Walter Rabello recebeu um espetacular número de votos em função do seu programa na TV, considerado popular. Independente dele ter chegado a deputado através do seu programa, a sua permanência e valor parlamentar serão determinados por suas atitudes, sua independência e sua lealdade com quem o elegeu. Sua postura de agora mudou para melhor seu conceito diante de muitos. Na contramão dos exemplos citados acima, o recém eleito federal Eliene Lima, após aprovar a trairagem de Blairo em uma entrevista, ao ser questionado em seguida em quem votaria, disse precisar de tempo para conhecer as propostas de cada um dos candidatos. Convenhamos que pior que usar o cabresto do governador é não assumir opinião. Deplorável. Consagrou-se o que já era esperado, desempenhará lá em Brasília o mesmo que desempenhou aqui, um mandato chinfrim. Essas pessoas citadas e muitas outras que não caberiam neste espaço, desdizem o empresário Blairo: “Um líder às vezes tem que contrariar seu rebanho”. Não somos seu rebanho, Blairo. Nosso estado não é seu curral. Em Mato Grosso existem pessoas de coragem que não se submetem à condição de gado do grupo Amaggi. E tem mais, daqui pra frente vamos fiscalizar cada contrato assinado entre suas empresas e o governo federal. Vamos nos certificar se o nosso estado não está sendo arrolado em seus negócios.
Editado por Adriana às 10/21/2006 03:34:00 PM |
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