Por Ana Maria Tahan no Jornal do Brasil Ministro das Relações Institucionais, o gaúcho Tarso Genro transformou-se em pitbull do governo Lula e em demolidor de pontes para futuras negociações políticas. Pior, assumiu-se como coveiro de um dos alicerces que sustentam a convivência democrática. ''O eleitorado está exaurido do debate ético'', sentenciou, domingo passado, numa desastrada tentativa de socorrer o chefe-candidato de críticas da oposição. No Aurélio, sempre ele, o verbete ética leva a apenas uma tradução: estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto. Em resumo, o que é ético é bom. Tudo que é do mal é antiético. Aos fatos. Se o que o ministro diz reproduz o pensamento do presidente, é de Lula a tese de que o povo está cansado do bem e só quer saber do mal? Impossível acreditar na premissa. É o que o ministro acha? Contradiz a sua história pessoal e pública. Então, ao formular a teoria audaciosa, quem Tarso traduzia? Quem decidiu que o brasileiro não quer mais ouvir ou debater ética? É bom nominar sempre, em vez de recorrer a generalidades para encobrir autorias inconvenientes.
O país não está cansado do tema, nem da discussão, nem da defesa da saudável conduta ética, na política ou na vida. O povo quer - mais que isso, exige - soluções para os casos político-policiais, sim. O enfado, se existe, decorre da impunidade que acoberta quem viola a lei, atropela a ordem, corrompe, rouba, usurpa bens públicos. Waldomiro Diniz vive livre e lépido pelas ruas. Vampiros vêem o sol nascer em horizontes sem grades. Mensaleiros e sanguessugas circulam por aí sem rugas na testa, e alguns até se reelegeram. Processados por má administração (para dizer o mínimo), como o reeleito deputado paraense Jader Barbalho, podem até sonhar com a presidência da Câmara num eventual (e quase certo) segundo mandato do presidente Lula. Há casos de polícia em excesso a resolver, inquéritos demais em gestação, inúmeras investigações a completar. O dinheiro do dossiê forjado pela máfia dos sanguessugas contra os tucanos ainda espera pela revelação do proprietário daquela montanha que soma R$ 1,75 milhão. De onde vieram as cédulas? Quem do PT deu a ordem para a operação de compra? O povo quer, exige, cobra respostas. Anda desiludido pela falta delas. Não tem nada a ver com o debate ético. É bom repetir: está enfadado de casos político-policiais. Especialmente aqueles executados por integrantes (pelo menos é o que apontam as apurações) do Executivo ou do Legislativo. Está transbordando de queixas pela falta de rapidez do Judiciário. Irrita-se com a impunidade epidêmica. O brasileiro não merece ser chamado de cúmplice ou conivente com a bandalheira, mesmo que tenha reconduzido chupadores de sangue e adeptos da mesada planaltina ao Congresso. A maioria, comprovam as pesquisas eleitorais, aposta as fichas no segundo mandato do presidente Lula por acreditar que ele dará fim à bandalheira, será um fiscal da ética nos próximos quatro anos, mais rigoroso e cruel com os criminosos do que foi no atual mandato. O mesmo raciocínio vale para os quase 40% que declaram a intenção de votar no tucano Geraldo Alckmin. Eles também estão sedentos de Justiça, famintos por um governo em que a defesa do bem esteja acima de tudo e os infratores não serão nunca perdoados. Serão punidos com o rigor das leis. O Brasil jamais estará exaurido do debate ético porque o brasileiro é um cidadão do bem.
Editado por Giulio Sanmartini às 10/22/2006 03:05:00 AM |
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