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LULA DERRUBOU A SI MESMO
Na Pedro do Coutto Tribuna da Imprensa
Escalando pessoas desqualificadas como Ricardo Berzoini para coordenador de sua campanha, aceitando a proximidade de eternos aproveitadores do poder como Freud Godoy, Jorge Lorenzetti e Expedito Veloso, não comparecendo ao debate da Rede Globo, e finalmente não percebendo que Aloísio Mercadante era o seu pior adversário, o presidente Lula derrubou a si próprio na reta de chegada das eleições.
Transformou, em poucos dias, uma vitória consolidada no primeiro turno num resultado incerto na segunda fase do confronto. Podia ter vencido anteontem, mas transferiu o desfecho para o último domingo de outubro. Seu caminho, daqui para a frente, como as pesquisas do Datafolha e do Ibope indicam, não será fácil. A diferença sobre Alckmin, hoje, é ampla. Mas amanhã a luta será uma incógnita. Luís Inácio da Silva foi atingido por uma tendência declinante. A do ex-governador de São Paulo é ascendente.
Lula precisa de um fato novo para revigorar sua campanha. Vale acentuar que o homem fatal de Nélson Rodrigues, Berzoini, piorou tudo ainda mais ao recorrer ao TSE contra a divulgação das fotos do dinheiro usado na fracassada tentativa de comprar de Luiz Antonio Vedoin o dossiê contra José Serra. Ora, se o PT nada tinha com o episódio, como explicar a iniciativa do ainda presidente do partido?
Ao lado de homens como José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Ricardo Berzoini, Duda Mendonça, um sonegador de impostos, Marcos Valério, Sílvio Pereira, Aloísio Mercadante, não deixa de se configurar um milagre sua fantástica vitória em 2002. Ia esquecendo de citar Roberto Jefferson. Que parceiros! Todos estes falsos amigos tornaram-se também falsos aliados. Jogaram o presidente da República no fogo.
Lula não teve a imprescindível capacidade de escolher sua equipe. O mundo está repleto de Delúbios e Dudas Mendonças. Mas, além de tal incapacidade de seleção, Luís Inácio da Silva cometeu outro erro fundamental. Foi em Minas Gerais. Talvez tenha sido ali que deixou escapar a maioria absoluta. Preferiu apoiar Newton Cardoso para senador, em vez de Itamar Franco. Absurdo total.
A pesquisa do Estado de Minas-Data, principal jornal mineiro, apontava 52 por cento para Itamar e apenas 22 pontos para Cardoso. Além do mais, parte substancial do PT-MG rejeitava o acordo com o PMDB, mas o apoiaria, caso do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, se fosse com Itamar Franco. Preterindo o ex-presidente, Lula simplesmente o colocou ao lado de Alckmin, que melhorou sua posição no Estado. Paralelamente, Newton Cardoso perdeu o Senado para Eliseu Resende.
Os votos mineiros foram decisivos - os números agora mostram - para impedir a reeleição de Lula anteontem, domingo. No segundo turno, o presidente da República precisará muito do apoio de Itamar. Vai obtê-lo? Um enigma para o Planalto. Vê-se, por tudo isso, que Luís Inácio da Silva cometeu uma seqüência de erros rudimentares. Qual a explicação? Difícil imaginar. Mas Lula não está sozinho no labirinto de equívocos. No Rio de Janeiro, fica em companhia de Sérgio Cabral Filho. Este compareceu ao debate da Globo, porém teve atuação infeliz, não conseguindo se desvincular de Anthony Garotinho e Rosinha Mateus.
Denise Frossard sai embalada da eleição de 48 horas atrás. Isso porque nos últimos dias da camapnha vinha subindo no Ibope e no Datafolha, enquanto Sérgio Cabral perdia terreno.
Agora, no segundo turno, a meu ver, a tendência é a deputada-juíza avançar mais e Sérgio permanecer estagnado. O apoio que o ex-presidente da Alerj podia ter obtido já obteve. Porém Denise Frossard tem pela frente um amplo espaço a ocupar. Sua campanha ressurge com a emoção que, sem dúvida, o sentimento de honestidade desperta. A candidatura Sérgio Cabral, baseada no puro marketing, não entusiasma ninguém. Pode gerar simpatia, mas nunca emoção. Pessoa alguma se emociona com ele. Não passa entusiasmo, ninguém grita seu nome nas ruas, não produz esperança. E política, no fundo, é tanto impulso quanto esperança.
A esperança que, pelo menos na área de fiscalização de impostos, não haja espaço administrativo para condenados pelo juiz Lafredo Lisboa, como Rodrigo Silveirinha e seu bando. Eles conseguiram, revelou a Justiça, somar depósitos em bancos suíços no montante de 40 milhões de dólares. Não é preciso dizer mais nada.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/03/2006 09:12:00 AM      |