Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa Impressiona a independência de organismos no PT. Há até um comando, mas cada patamar parece ter autonomia em tomar decisões. Foi assim com o ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares: fechou empréstimos com Marcos Valério de Souza sem dar ciência a ninguém e apenas comunicou a José Genoino que era preciso que assinasse as promissórias para que tudo tivesse caráter legal. O presidente de então da legenda o fez, ao que parece sem perguntar muito. Da mesma maneira como um assessor do deputado cearense José Nobre foi flagrado no aeroporto de Cumbica com cerca de R$ 400 mil divididos numa valise e em pacotes que envolviam seu corpo. Ninguém sabia da presença deste homem em São Paulo, nem mesmo Genoino, irmão de José Nobre.
Na Casa Civil, segundo o ex-deputado Roberto Jefferson, o ex-ministro José Dirceu pintou e bordou. Foi acusado pelo procurador geral da República, Antônio Fernando de Souza, de ser o chefe da "quadrilha" - assim foi classificado pelo homem mais importante do Ministério Público no País - que inventou e concretizou o mensalão. Lula, na sala ao lado, de nada soube. Como não soube também da movimentação de Ricardo Berzoini. Que, por sua vez, não tinha idéia da manobra articulada por Oswaldo Bargas e Jorge Lorenzetti. O presidente igualmente não fora informado daquilo que fazia Freud Godoy em sua ausência, que despachou Valdebran Padilha e Gedimar Passos para um encontro com Luiz Antônio Vedoin. O candidato do PT ao governo de São Paulo, Aloízio Mercadante, foi igualmente pego de surpresa com o envolvimento de Hamílton Lacerda no "dossiêgate". Impressiona tamanha autonomia de todos para fazer todo tipo de negócio, a maioria com jeito de amadorística trapalhada e que pode custar a Lula uma vitória que se apresentava fácil no primeiro turno. Em quatro anos, foram vários os casos. O governo conseguiu desmoralizar aquilo que se chama de "cadeia de comando". A gestão verticalizada pressupõe tomada de decisões sempre dando ciência ao patamar superior e com a concordância dele. Nos últimos tempos o que se viu foi uma gente enlouquecida, fazendo o que quer e bem entende, sem dar satisfações a ninguém nem medir os efeitos de cada erro. Pelo menos na versão daqueles que se confessaram enganados, traídos ou surpreendidos. De duas, uma: ou são fracos como comandantes ou são cínicos.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/22/2006 01:18:00 AM |
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