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PF INTERCEPTOU DIÁLOGOS SOBRE DOSSIÊ
Na Tribuna da Imprensa
CUIABÁ - Diálogos interceptados pela Polícia Federal (PF) com autorização da Justiça revelam que o PT teria mobilizado pelo menos 11 pessoas diretamente, seis delas identificadas, na operação para comprar e divulgar o dossiê destinado a prejudicar a candidatura do ex-prefeito de São Paulo José Serra (PSDB), da Coligação Por um Brasil Decente (PSDB-PFL), a governador.
Eles caíram na armadilha ao se comunicarem com o empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, acusado de ser o operador da máfia dos sanguessugas, nas duas semanas que antecederam a apreensão de R$ 1,75 milhão que seria usado na compra do dossiê.
À medida que se aproximava a data da troca do dossiê com o dinheiro, os telefonemas intensificaram-se. Os diálogos do dia 14, véspera da prisão do grupo, ocorreram em ritmo frenético. Só com o engenheiro eletricista Valdebran Padilha, o empresário falou 17 vezes apenas pelo telefone grampeado, o de número (65) 9208-6507.
No momento mais tenso da negociação, Padilha informa ter recebido a parte combinada do pagamento - "o negócio já está rodando" - e reclama que faltaram coisas importantes no material prometido por Vedoin.
- O que está acontecendo? Ficou faltando vocês entregarem um material aí (...) diz que é aquela fita bruta que aparece você não sei com quem. Entrega logo esse trem aí, cara.
Duro na negociação, Vedoin responde que só entrega depois de ver a cor do dinheiro todo.
- Meu amigo, só vou entregar a hora que entregar o negócio aí. Chega! Não vou mais fazer papel de palhaço.
O petista o tranqüiliza quanto ao restante do dinheiro - Eu tô com o cara aqui e ele tá com o negócio. Estamos aqui juntos. Aquela outra parte, já guardei onde tinha de guardar (referindo-se ao cofre do hotel). A outra parte dá aqui com ele. Daí entrega esse trem!", insiste.
Mas o empresário alega que, no dia anterior, outro petista havia prometido antecipar parte do dinheiro e não o fizera. Nas conversas seguintes, eles fecharam negócio e Vedoin avisou que o tio, Paulo Roberto Dalcol Vedoin, seguiria para São Paulo no dia seguinte, em vôo da TAM, para levar o resto do material e receber parte do dinheiro. Dalcol Vedoin foi preso no Aeroporto Internacional de Cuiabá, quando se preparava para embarcar.
Entre 10 horas e 17h12 do dia 14, último diálogo interceptado antes da operação, foram 35 ligações do empresário para os diversos envolvidos na negociação, algumas também para o pai de Antônio Vedoin, Darci Vedoin, com o qual discutiu cada passo da negociação, e para o tio.
Pelos diálogos, a PF constatou que, posto em liberdade graças ao acordo de delação premiada, Antônio Vedoin, passou a cobrar propina para silenciar em relação a alguns acusados, ou revelar informações comprometedoras contra outras. O PT, então, teria montado uma operação, com o conhecimento da cúpula, para mudar os rumos da eleição de São Paulo.
Pressionado por dificuldades financeiras e confiante de que o acordo de réu colaborador o havia blindado, Antônio Vedoin teria passado a negligenciar na segurança e a fazer extorsão pelo telefone, que julgava não grampeado. Dirigente do diretório do partido na capital mato-grossense, Padilha foi escalado pela cúpula petista para intermediar a negociação com Antônio Vedoin, a quem conhece há mais de seis anos e havia visitado na primeira vez que o dono da Planam fora preso, por ocasião da operação sanguessugas.
As interceptações mostram que as negociações chegaram ao valor de R$ 2 milhões pelo material - DVDs, fitas e fotos com imagens de uma reunião, com a presença de Serra, para entrega de ambulâncias na sede da Planam, entre 2000 e 2001. As imagens mostram parlamentares indiciados no inquérito dos sanguessugas, como os deputados Pedro Henry, Ricarte de Freitas, Lino Rossi e Nilton Capixaba. As imagens mostram Serra e o ex-governador mato-grossense Dante de Oliveira em primeiro plano.
Único que continua preso, Vedoin foi ouvido novamente ontem pela PF e o Ministério Público, que querem saber os nomes dos outros cinco petistas envolvidos na negociação do dossiê e também os mandantes. Querem também levantar a origem do dinheiro: nomes das empresas, partidos e pessoas que contribuíram, de onde o dinheiro foi sacado, a forma e outros envolvidos.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/22/2006 01:13:00 AM      |