Por José Paulo Kupfer em no mínimo Só quem acredita em duendes – e na conversa fiada dos governantes do turno – ficou surpreso com a perspectiva de que, em 2006, a economia, mais uma vez, exiba um crescimento insatisfatório, depois da divulgação dos raquíticos números do segundo trimestre do ano. O Brasil cresceu apenas 0,5% sobre o trimestre anterior, ficando na rabeira do grupo de países que já anunciou seu desempenho econômico no trimestre abril/junho. As projeções de um crescimento de 3,5% neste ano já caíram em exercício findo. O PIB de 2006, em resumo, subiu no telhado. O que se vislumbra agora é um resultado mais tímido. Bem mais tímido do que os 5% estimados pelo então ministro Antonio Palocci, na virada do ano. E também dos 4% em que o ministro Guido Mantega e o Banco Central ainda insistem em dizer que acreditam. No momento, as bolas de cristal dos economistas apontam para uma expansão no intervalo entre 2% e 3%, dependendo do grau de otimismo (ou oposicionismo) do cartomante. Desta vez, o doutor Meirelles, do Banco Central, não apareceu para cantar de galo, como no primeiro trimestre do ano, quando o crescimento, em relação aos últimos três meses de 2005, ficou em 1,4%. Naquela vez, Meirelles teve a cara de pau de anunciar um “vigoroso” crescimento de 5,7% em 2006, sacando do bolso do colete a taxa anualizada, a partir do resultado trimestral. Coisa usual nos Estados Unidos, mas exótica – e tecnicamente inadequada – entre nós. A razão do silêncio é óbvia: se Meirelles fosse anualizar a taxa de 0,5% do segundo trimestre, teria de anunciar um crescimento de pouquinho mais de 2%. Se isso parece pífio, pior é a realidade: no período de 12 meses encerrado em junho, o PIB cresceu 1,7%.
Ficar atrás de outras economias emergentes não é novidade para o Brasil. A trajetória da economia brasileira consolidou, nos últimos doze anos, um padrão de baixo crescimento, com o triste detalhe de que, na última metade desse intervalo, isso ocorreu num período de pujança da economia mundial. São ciclos curtos, de quatro anos, com pequenos picos de no máximo 5% num dado ano, e pequenos vales, entre retrocessos de 0,5% e avanços de até 3%, nos demais. Não é coincidência que esse padrão tenha se consolidado no governo FHC e se reproduza no governo Lula. A explicação é simples: no essencial da política macroeconômica, os dois governos são iguais – e conservadores, como notou o experiente Olavo Setúbal, patriarca do Banco Itaú. O que mais preocupou nos números do segundo trimestre foi a taxa de investimento. A soma dos recursos aplicados em novas construções, máquinas e equipamentos recuou 2,2% sobre o volume aplicado no trimestre anterior. Tudo a ver com taxas reais de juros tão altas quanto as definidas pelo Banco Central. Quando o dinheiro, que financia os investimentos, custa caro, e, além disso, a economia, na tendência, cresce pouco, pouquíssimos negócios valem a pena. Nessas condições, em anos eleitorais, o investimento simplesmente trava. É intuitivo o significado de uma taxa de investimento que não decola: a produção não tem por onde se expandir e o que resta é esticar a corda da capacidade já instalada, dobrar turnos de produção e coisas do gênero, até bater no teto. As indicações são de que o teto atual é de uma expansão geral não superior a 3% no ano. É o que parece que se repetirá, mais uma vez, agora em 2006. E provavelmente em 2007, se as amarras macroeconômicas que mantêm os juros reais acima de 10% não começarem a ser desfeitas. Apesar da desaceleração no segundo trimestre e dos sinais de que o ritmo não melhorou muito em julho e agosto, para crescer 3% em 2006, ou mesmo um pouco menos, a economia terá de melhorar até o fim do ano. Afinal, nos dois primeiros trimestres, o PIB avançou 2,2%. Por definição, dados trimestrais são mais voláteis e basta olhar as curvas históricas do PIB trimestral para entender que elas normalmente sugerem mais gangorras do que ladeiras (para cima ou para baixo). Em resumo, com base nos números do segundo trimestre, não é recomendável apostar numa catástrofe daqui até o fim do ano. Será apenas a mesma mediocridade já conhecida.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/04/2006 05:10:00 AM |
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