Por Laurence Bittencourt Leite, jornalista
O voto deveria ser livre no Brasil, nos dois sentidos do termo. Livre no sentido de não obrigatório, e livre no sentido de não ser comprado, ou seja, que ao se decidir votar, a pessoa fizesse sem precisar sujeitar-se a fatores de necessidade material. Mas, como todos sabem, quase toda eleição nesse país é comprada, porque o assistencialismo e a dependência são uma das formas que a classe política tem de continuar explorando, deliberadamente esse estado de miséria. A miséria é o maior cabo eleitoral e o maior eleitor dos políticos nesse país. E muitos ajudando. E quem tem a máquina (imagine!) pública, se vale dela para se manter no poder. Usa-se a máquina (que teoricamente seria do povo) para proveito próprio, pessoal e partidário. Isso de forma arbitrária. No Brasil o Estado literalmente serve a uma elite política corrupta. E se dependesse de Lula eu, por exemplo, não poderia mais escrever isso aqui. Nossa vocação para tutelagem é imoral. Cadê nossos liberais? Bom, mas como sair dessa corrupção? Como dar o grande salto?
Ora, que nos falta uma sociedade minimamente ética, é um fato. Mas por quê? Podemos levantar alguns enfoques. Mas fiquemos com uns a partir de algumas perguntas e respostas. Quem deveria fiscalizar o poder executivo municipal? Os vereadores, certamente. Mas eles fazem isso? Claro, que não, porque não tem independência para tanto, para usarmos um termo suave. Eles precisam do executivo para dar o retorno aos acordos políticos, e como a máquina pública não é usada para a sociedade, os vereadores entram no mesmo jogo corruptivo do executivo. E tome mensalão. Segundo: quem deveria fiscalizar o executivo estadual? Os Tribunais de Contas e o as Assembléias. Os membros dos Tribunais são indicados pelo chefe do executivo e os jornais mostram diariamente como andam as assembléias espelhadas por esse país. Logo, diante desse mar de lama praticado pela classe política, como esperar que a população seja ética? No Brasil ser correto é ser trouxa. A população percebe a corrupção instalada e sabe que seu esforço de pagar impostos não será bem utilizado. É esse estado de coisas, com raríssimas exceções, que tem se mantido e prosperado ao longo da nossa história. Costuma-se dizer (como forma de suavizar o peso da corrupção política) que a fonte da corrupção nesse país é uma relação bilateral entre poder público e iniciativa privada. Querem colocar o peso na iniciativa privada para defender o público. Mas quem patrocina a corrupção são os governos. Basta ver os Correios. Corrupção dentro do próprio governo. E o foliaduto? Alguém foi ou vai preso? A iniciativa privada é usada por essa gente, para encobrir a fonte primaria de corrupção que é o governo. Quem diz o contrario, pode observar, é porque de alguma forma está sendo beneficiado. A sociedade literalmente fica desprotegida desse assalto. E como reagir a eles? As leis nesse país são feitas pelos políticos (imagine), e feitas para beneficiá-los. E o incrível é que as leis não servem para eles, os políticos são e estão fora da lei. E tome mensalão. Os políticos nesse país são tão beneficiados que até vale transportes eles tem. Recebem (pagos por quem?) quatro viagens ao ano de Brasília para as cidades de origem. Eles têm todos os privilégios. E o que resta a sociedade? Só há um caminho para se defender: sonegar impostos, porque sabe que o esforço dela e o fruto do seu trabalho não serão usados para o beneficio de todos. Já o pequeno empresário não tem como assinar carteira, porque não pode suportar o peso dos impostos (feitos para ajudar e manter a classe política), e pior, por saber que grande parte do INSS recolhido será usado de forma ilícita, para dar aposentadoria a político, para sustentar aposentadorias fraudulentas. O sujeito é eleito, e depois de uma legislatura já é aposentado ganhando uma nota paga por quem de fato trabalha, produz, vive dentro da lei e que deve contribuir por 35 anos. Escravidão? Para sustentar uma elite abusiva? Temos uma legislação nesse país que só beneficia o erro, a corrupção e a impunidade. A maquina pública é feita e mantida para acordos políticos e beneficiar laços familiares. Mas como mudar isso? Como? As eleições, ao que tudo indica, até o momento, deverão dar a reeleição ao governo mais corrupto da historia política desse país. É a democracia afirmam. Mas quando vemos um mau assumir o poder (ou reassumir), me vem a idéia de Platão e seu desprezo pela democracia e pelo heterogêneo ao dizer que só gera o caos, põe pessoas ruins em governos e a plebe embarca nessa canoa sem se dar conta.
Editado por Adriana às 9/03/2006 11:01:00 PM |
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