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O PAÍS DOS MENTIROSOS
Por Ana Maria Tahan no Jornal do Brasil
A imagem da pilha de dinheiro que iria remunerar os Vedoin por fotos e vídeos de cerimônias oficiais com emplumados tucanos é emblemática de um país que banalizou a mentira. Primeiro foram os arapongas trapalhões reunidos pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini. Presos em flagrante com mala de dólares e reais, Valdebran Padilha e Gedimar Passos juraram não saber de nada. Mentiam. Sabem de tudo. Ou quase tudo. Implicaram o churrasqueiro Jorge Lorenzetti e o ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Soares. Estes também juraram inocência. Mentiam.
A revista Época se encarregou de contar que Berzoini tinha sua cota na operação mal articulada e executada por descendentes dos Irmãos Metralha. O que fez o presidente do PT? Assegurou não ser responsável por erros de outrem. Mentiu e foi destituído da coordenação da campanha à reeleição do presidente Lula.
Depois, o jornalista Mário Simas, da IstoÉ, autor da entrevista em que o chefão da máfia dos sanguessugas acusa tucanos de participação do esquema, introduziu outro personagem na trama: o coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante ao governo paulista, Hamilton Lacerda. Que, mãos postas em contrição, negou qualquer envolvimento. Mentiu. Deixou o posto para depor na Polícia Federal. Imagens do circuito interno de TV do hotel em que os espiões do PT se hospedaram o interceptou na hora de entregar uma mala para Gedimar. Ontem, afirmou que a mala não tinha dinheiro, apenas material de propaganda do PT, um notebook e extratos bancários. É mentiroso reincidente.
Mercadante é outro aplicado participante da competição para se descobrir quem falta mais com a verdade neste teatro de horrores. "Nunca autorizei participação de qualquer um em processo dessa natureza", afirmou dia 20. Lacerda é vereador no ABC, cuida da comunicação, integra o alto comando da campanha e o candidato não sabe de nada?
Parte da Polícia Federal tem atuação neste festival. Quando deparou com o tamanho da encrenca e a proximidade dos participantes com o 4º andar do Planalto, hibernou os fatos, as imagens, o dinheiro e tudo que podia. Chegou ao cinismo de empurrar para depois da eleição a revelação do dono, ou donos, das cédulas apreendidas. A alegação de que descobrir titulares de contas bancárias leva tempo é a mais deslavada desculpa que já se inventou por aqui.
Nesse quesito, não dá para ignorar a menção honrosa do ministro Márcio Thomaz Bastos. O grande criminalista é o diretor da peça. Interpretação primorosa. As juras de imparcialidade e a medalha de avalista da lisura eleitoral por evitar o uso da imagem do dinheiro por um lado ou outro são de arrepiar. De raiva. É uma das mais audaciosas invenções nessa história de pinóquios.
Um enredo do qual os tucanos não se safam. Fingiram inocência no episódio do envolvimento do ex-presidente da legenda Eduardo Azeredo com Marcos Valério, o trem pagador do mensalão. E entortam a boca para se livrar da ligação entre um dos mafiosos sanguessugas com o ex-ministro tucano da Saúde Barjas Negri.
Agora, chega-se ao produtor do espetáculo de todas essas histórias de carochinha. O mestre. Presidente-candidato, Luiz Inácio Lula da Silva insiste em permanecer no papel do inocente que nada sabe, nada ouve, nada vê. Um iludido por amigos fiéis e assessores inseparáveis. Um professor da arte de jogar as suspeitas para o lado adversário. Prejulga os outros, absolve-se e defende os companheiros a priori. Perfeito exemplar do país de faz-de-conta.
E assim a mentira tornou-se o mal do Brasil. A tal ponto que mães zelosas deveriam tirar seus filhos da frente dos aparelhos de TV quando qualquer um dos grandes intérpretes surgisse na tela. Para que pelo menos a próxima geração volte a saber que mentir é feio. Pecado.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/30/2006 04:00:00 AM      |