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“O CHEFE” - 2A. PARTE
por Carlos I.S. Azambuja, professor em Mídia sem Máscara
Em 17 de julho de 2005, o jornal O Estado de S. Paulo comentou as declarações do presidente no editorial “Lula endossa a farsa”. Para o jornal, o presidente está associado a uma “armação”. Concedeu uma entrevista na qual “tinha absoluto controle” das perguntas, para se dirigir aos brasileiros. Conclusão do editorial: “A hipótese mais plausível é a de que ele aceitou ser ‘poupado dos detalhes’. Se um governante precisa se esforçar para saber o que os seus colaboradores não querem que saiba, que dirá então quando dá a impressão de que não quer saber? No caso de Lula, a única dúvida é se agiu assim para se proteger ou por autêntico desinteresse em conhecer como funcionam as coisas no seu governo”.
Em 22 de julho de 2005, em viagem ao Rio, Lula ridicularizou as investigações sobre o escândalo do mensalão: – “O que o povo quer mesmo é resultado. É saber se, no frigir dos ovos, a sua vida vai estar melhor do que quando nós entramos no governo”. Em outras palavras, Lula defende o “rouba, mas faz”.
Após almoçar com trabalhadores na refinaria da Petrobrás em Duque de Caxias (RJ), o presidente, exaltado, diz que ninguém lhe dá lição de ética: – “Eu conquistei o direito de andar de cabeça erguida neste país. E não vai ser a elite brasileira que vai me fazer abaixar a cabeça”.
Em 27 de julho de 2005, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), enviou ofício ao Conselho de Ética da Câmara. Confirmou que alertou Lula sobre o esquema de pagamentos a parlamentares, em 5 de maio de 2004. Diz o documento: “Relatei ao senhor presidente que ouvira rumores sobre a existência de mesada a parlamentares em conversas informais em Brasília, porém sem provas concretas. Repeti o inteiro teor das informações que havia recebido. O senhor presidente disse que não tinha conhecimento e que ia tomar as providências que o assunto requeria. Não sei quais foram as providências tomadas”. Perillo aponta duas testemunhas da conversa, que estavam dentro do carro. O motorista e o chefe da segurança do presidente. Nunca foram chamados pela CPI dos Correios, jamais depuseram.
Em 01de agosto de 2005, Cláudio, filho do presidente, usou avião oficial da FAB com 14 amigos. Foi durante as férias de 2004. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) fez sete tentativas até conseguir confirmar a mordomia, junto ao gabinete institucional da presidência da República. Antes, mandou sucessivos requerimentos à Secretaria-Geral da Presidência, Ministério da Casa Civil e Ministério da Defesa.
Em 12 de agosto de 2005, Lula aproveitou uma reunião ministerial para ler discurso ensaiado e preparado por sua assessoria. Faz um auto-elogio a realizações do seu governo e exime-se de responsabilidades sobre o escândalo do mensalão. Visivelmente abalado, quase não olha para as câmeras que transmitem o discurso. No final, de improviso, diz: – “Eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas”.
As afirmações são vagas. Lula não diz com precisão a que se refere. Não aponta nenhum culpado. O discurso, cheio de frases soltas. Fica nítida a intenção de proteger os responsáveis pela crise: - “Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o país”.
Lula afirma estar “consciente da gravidade da crise política” mas não explica por que Delúbio Soares era freqüentador assíduo do Palácio do Planalto. Tampouco refuta, com a ênfase esperada, que fora alertado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) para a existência de um esquema de distribuição de mensalões à base aliada. Diz Lula: – “Se estivesse ao meu alcance, já teria identificado e punido exemplarmente os responsáveis por esta situação”.
A verdade, porém, é a do presidente que se movimentou, de todas as formas, desde o início, para impedir a instalação das CPIs. De um homem que tratou de manter, o quanto pôde, José Dirceu no Ministério da Casa Civil. Justo Dirceu, tido como o grande operador do mensalão.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/24/2006 04:40:00 AM      |