Por Anna Maria Tahan no Jornal do Brasil O Brasil soma 42 milhões de miseráveis, informa a pesquisa Miséria, desigualdade e estabilidade: O segundo real, divulgada pela Fundação Getúlio Vargas. Neste país de pobres, que já foram muito mais, digno de dó mesmo são os petistas. Troca comando, mudam chefetes e não conseguem se livrar de um técnico que jamais acerta na escalação do time. É mestre, contudo, em jogadas ensaiadas, repetidas e sempre derrotadas. E faz escola. Pior ainda ficam os torcedores, que tentam empurrar o escrete e acabam maltratados, pisoteados no amor pela camisa e na crença da reviravolta. Imagem outra não reproduz tão perfeitamente a reprise do teatrinho mal encenado pelos cartolas e cabeças-de-bagre do PT Futebol Clube. A apelidada Operação Tabajara - que os criativos autores-atores do Casseta e Planeta perdoem a comparação - está aí para confirmar o início do parágrafo. Tudo se repete na sede do PTFC. Como nos casos do mensalão e dos sanguessugas, a história do dossiê montado para atingir o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra, comprova a falta de criatividade e o cinismo do comando partidário.
José Genoino foi o pioneiro. Quinze meses depois, Ricardo Berzoini, seu sucessor no controle do PT, também posou de santo e inocente enganado por assessores de confiança no início do escândalo da compra e venda de vídeos mal editados e fotos sofríveis de cerimônias oficiais de entregas de ambulância durante a administração tucana no Ministério da Saúde. A cada revelação, foi obrigado a se negar e na terceira caiu. Pelo menos do comando da campanha, meio caminho andado para a aposentadoria do poder. Exatamente como Genoino. Aloizio Mercadante se copia. No mensalão, inocentava liminarmente todos os companheiros. Insistiu na dose até cair a máscara com o envolvimento do seu assessor de Comunicação no enredo dos Vedoin. Tarso Genro, hoje como ontem, reitera que o problema é localizado, culpa de companheiros de índole ruim, poucos diante dos parceiros sérios e éticos. Ainda bem que desta vez não utilizou o termo "refundação" com o qual tentou se preservar, e ao seu agrupamento, um ano e meio atrás. Márcio Thomaz Bastos, o eterno, repete as juras de imparcialidade da Polícia Federal, a retidão do governo nas apurações. Liberou as fotos, mas fechou o dinheiro apreendido no cofre, sem imagens, para "evitar o uso eleitoreiro". Como se eleitoreira não fosse a intenção de vendedores e compradores petistas de informações forjadas com objetivo e endereço certos. Entre todos, destaca-se o presidente-candidato, cartola máximo da agremiação, Luiz Inácio Lula da Silva. Faz-se de vítima, confessa incompetência ao afirmar que nada sabia, proclama a boa vida pregressa dos companheiros. Fala "desses meninos", como pai de crianças levadas que precisam de perdão e compreensão. Chega sempre depois, como foi com José Dirceu, José Genoino, Luiz Gushiken, Duda Mendonça, Antonio Palocci, e os menos estrelados João Paulo Cunha, Professor Luizinho... Haja reticências. Pelo menos, há de se agradecer a ele, até a revelação da origem e do dinheiro que pagaria a lambança, a surpresa com a referência literária durante entrevista ao Bom Dia Brasil, na quinta-feira: "Sabe aquele Os 17 dias que abalaram o mundo?", perguntou. Surpresa em dose dupla. O famoso livro de John Reed tem só 10 dias. O escândalo tem um pouco menos. Completa oito dias hoje. E quem abalou o país, mais um vez, foi a turma do presidente. Os homens do presidente. Nem todos ainda. Mas quase todos. Pobre Brasil.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/23/2006 02:05:00 PM |
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