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LULA, CIDADÃO DO MUNDO
Por Villas-Bôas Corrêa em A Voz da Serra
Quanto mais perto da urna, mais os desatinos e excessos dos dois lados diferenciam a arrogância dos que enfiam na cuca o boné de vitoriosos da véspera dos que perdem o controle dos nervos e se expõem no desequilíbrio das tensões da derrota à vista, com os horrores de quatro anos no desterro da oposição.
O que passa da conta são os excessos dos que relaxam a vigilância e se arriscam no limite do ridículo da jactância ou nas proximidades do poço fundo do desvario.
Pois a temporada tem sido pródiga de exemplos dos dois extremos.
No palco da euforia dos que consideram a fatura liquidada e soltam foguete a cada pesquisa que confirma o sólido, o inabalável favoritismo do candidato-presidente Lula – no bailarico com os pares equilibrados nos sapatos de saltos na Lua, o foguetório parece, mal comparando, com o pipocar das bocas de fumo anunciando à freguesia a chegada de nova remessa da mercadoria.
Até os que dissimulam não conseguem esconder o alvoroço do fundo da alma com a previsão de mais quatro anos no aconchego do poder. Num caso típico de açodamento, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mandou a discrição às favas e apressou a mudança, com armas e bagagem, para a mansão oficial à beira do lago, no duplo sinal da cega certeza na reeleição de Lula e, num escorregão no ato falho, da evidência de que já recebeu do alto a sua confirmação na pasta poderosa. E que foi o calvário do seu antecessor, o ex-ministro Antonio Palocci, “o melhor ministro da Fazenda da história deste país”, às voltas com a Justiça Federal e com a Polícia Federal.
O implacável relatório da PF acusa o ex-ministro da prática de quatro crimes: quebra de sigilo funcional, quebra de sigilo bancário, prevaricação e denúncia criminosa ao montar uma operação “oblíqua e transversa” para acessar a conta bancária do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que o acusou na CPI dos Bingos de freqüentar a casa de encontros e negociatas que a turma de Ribeirão Preto (SP) mantinha na capital.
Não é o único a passar a linha da conveniência. Mais comedido, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, pede a palavra para celebrar a vitória no primeiro turno, escorando-se na ressalva: “Se entrarmos na semana que vem com esse quadro estabilizado como está, não é imprudente dizer que vamos ganhar a eleição no primeiro turno”.
O coro do oba-oba, tal como o célebre cordão dos puxa-sacos, cada vez aumenta mais. Pudera, se o exemplo vem do alto, lá do topo da pirâmide, do cume da montanha. No programa gravado para o horário de propaganda eleitoral, o candidato-presidente declamou, impostando a voz e com gesto enérgico, a frase-símbolo da arrogância. Com todas as letras: “Agora, eu conheço o mundo e o mundo me conhece”.
A autopromoção a cidadão do mundo, untada em presunção e vaidade, é a resposta irritada, a desforra da frustração que o persegue, e que explica a inveja que pinga das suas freqüentes referências à sua infância de extrema pobreza e do aprendizado na escola da vida, que supre com vantagem a cultura livresca de adversário, em cutucada direta ao seu odiado antecessor, Fernando Henrique Cardoso.
Marolas na arrebentação de véspera de decisão. E que recomenda as cautelas da prudência para conter exageros da estação.
Do lado sombrio da oposição, a enxergar fantasmas nos porões da derrota, a recorrente ameaça de abertura do processo de impeachment do presidente Lula, agora, se possível, ou depois da eleição e antes da posse no caso de presumida reeleição.
Pouco significa a especulação sobre a consistência da denúncia, refrescada com a recomendação dos auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) da abertura de processo para apurar o uso de cinco milhões de cartilhas contratadas pela Secom para divulgar os êxitos oficiais e das quais dois milhões foram desviadas para o PT para utilizar na propaganda eleitoral.
Francamente, depois da ressaca de escândalos de corrupção, como o mensalão, o caixa dois, a compra superfaturada de ambulâncias da Operação das Sanguessugas, não passa do esperneio da tolice a manobra eleitoreira de apelar para o anão da trupe da roubalheira.
Uma questão de bom senso. Os milhões de votos que decidem a eleição ou reeleição de presidente, de governador, de prefeito refletem a vontade da maioria, o respaldo da opinião pública. E que não se desafia impunemente com o revide, que soa como desacato ao eleitor.
Com as agravantes do bis de um candidato que liderou todas as pesquisas, em marcha ascendente, na prova dos nove da força da sua liderança popular.
Quem brinca com o fogo queima os dedos.



Editado por Giulio Sanmartini   às   9/15/2006 01:39:00 AM      |