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GRANDES CONTRADIÇÕES
Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa
BRASÍLIA - Como entender as farpas arremessadas e até as agressões praticadas pelo presidente Lula contra políticos e imprensa? As últimas, desta semana, em Caruaru, merecem ser repetidas: "O povo é mais inteligente do que a classe política"; "quem está na tribuna da Câmara e do Senado me acusando não merece que eu perca o meu tempo"; "quanta coisa o povo não lê nos jornais?".
Até que se justificava, no passado, essa agressão do sindicalista às instituições por ele contestadas quando buscou fundar um partido diferente, vacinado contra o establishment. Políticos e imprensa tinham, como têm até hoje, defeitos imensos, dignos de críticas pelos que sofrem suas discriminações.
Recaídas incendiárias
Mas depois de tornar-se presidente com o apoio de políticos, respaldado pela mídia, Lula perdeu o direito de julgar-se adversário destes valores e daqueles personagens. Inclusive porque não governa sem eles, muito ao contrário. Vale o mesmo para o PT, que no exercício do poder demonstrou não ser em nada diferente dos demais.
Como presidente, Lula concede aos meios de comunicação recursos nunca dantes concedidos sob a forma de publicidade desnecessária e de empréstimos estratosféricos, tanto quanto busca cooptar, até por mecanismos fraudulentos, o respaldo de parlamentares. Celebra acordos de todos os tipos, como se verificou ainda há pouco com personagens do tipo Newton Cardoso e Jader Barbalho, para não falar nas palavras carinhosas para com o ex-ministro Humberto Costa, indiciado pela Polícia Federal na operação-vampiro.
Assim, quando investe contra a classe política e tenta desmoralizar o noticiário, nada mais faz do que encenar uma farsa. Imagina agradar as multidões que se ressentem da fragilidade da imprensa e da desfaçatez dos parlamentares. O presidente faz parte do sistema, que até consegue liderar de vez em quando, enquanto tenta aparecer como contestador. A prática costuma ser irresponsável, às vezes, mas perigosa. Envolve aventuras populistas quase sempre ligadas ao continuísmo e à ocupação sempre maior de espaços do poder.
Se é para livrar o País da pérfida atuação dos políticos, ou das mentiras e omissões da imprensa, melhor seria a população identificá-lo pelo avesso. Não um presidente que privilegia os meios de comunicação ou envolve os políticos, mas alguém disposto a arrebentar com ambas estruturas. Esse diagnóstico não será o único a definir Lula. Claro que outros poderiam ser apresentados, como o de um líder que busca minorar as agruras da população carente e que se esforça por desenvolver políticas para levar o País a inserir-se no contexto mundial.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/08/2006 03:23:00 AM      |