Por Antonio Sebastião de Lima, professor na Tribuna da Imprensa O candidato Luiz Inácio, em discurso de campanha, disse que todos os ex-presidentes reunidos, portadores de diplomas universitários, não conheceram a alma do povo como ele, sozinho e sem diploma, a conhece. Seguro de que conhece bem a alma passiva, leniente, sensual e licenciosa de um povo que gosta de levar vantagem em tudo, Luiz Inácio justificou a corrupção no seu governo confessando que fazia o que os outros sempre fizeram, ou seja, organizara a sua própria quadrilha. A roubalheira veio à luz com os inquéritos parlamentares. Alguns membros da quadrilha afastaram-se do governo com o afago e a solidariedade do presidente. O intuito foi o de preservar o poderoso chefe, cuja reeleição garantirá a impunidade e fará bem a alma quadrilheira, aos banqueiros, empreiteiros e aos grandes empresários das comunicações e da publicidade. Os povos do Nordeste e Sudeste do Brasil conhecem um tipo de nordestino dono de burrice ímpar e que se tem na conta de pessoa muito inteligente. Guarda na memória palavras que o impressionam, embora sem noção do seu exato significado, para utilizá-las na comunicação oral. Adora falar de improviso, olhos brilhando de malandra esperteza, certo de que exibe genialidade. Confunde eloqüência com verborragia.
A esperteza própria desse tipo de nordestino levou Luiz Inácio a mentir e enganar os eleitores. Manteve as práticas corruptas e a economia neoliberal que prometera combater e mudar. Sem medo de ser feliz, confessou a conduta delituosa. Admitiu fazer campanha eleitoral durante o ano inteiro "como todo mundo". Na propaganda eleitoral, esconde o nome, a sigla e as cores do seu partido. Alega que "todo mundo" sabe qual é o seu partido. Mediante tal expediente, o candidato pretende ficar em redoma, protegido da lamacenta imagem do partido do qual sempre foi o carismático e poderoso chefe. Cuida-se, nesse contexto, de infidelidade, enganação e ilegalidade explícita. Os benefícios da Bolsa Família tendem a reeleger o presidente, ainda que o saibam corrupto. Impera a lei da sobrevivência. O medo de perder a quirera que recebem é maior do que o zelo pela proibidade. Luiz Inácio conhece a alma dessa gente sofrida. Dali saiu para integrar e conhecer a alma da classe média. Agora, rico e poderoso, corre atrás do voto dos trabalhadores e dos aposentados, depois de lhes retirar garantias e contrariar legítimos interesses. A alma dos artistas fê-lo sentir que estava no caminho certo; que governar é mergulhar na merda e mandar a ética e o povo à merda; que a corrupção faz parte da política; que o corrupto e o eleitor que nele vota têm alma de merda; que basta passar desinfetante perfumado para feder menos, conquistar votos e gozar as delícias do poder. A merda passou a circular socialmente pelas tribos, filmes, novelas, peças de teatro, textos literários e jornalísticos. Piada de salão: dona Erda é cumprimentada pelo vizinho novo: "bom dia, dona Osta". A técnica mnemônica de associar palavras responde pela graça. Há quem tape o nariz ao ouvi-la. O que fede não é a palavra e sim a substância por ela designada e as pessoas que a têm no cérebro e nos intestinos. Conhecendo a alma de setores da sociedade, Luiz Inácio diz conhecer a alma do povo brasileiro. Isto lhe dá a certeza de que a alma que reelegeu um antecessor corrupto, reelegerá um sucessor corrupto. O candidato devia esclarecer se entende por alma a presença ou a ausência de substância, posto que a alma pode ser energia e ordenação que geram partículas, átomos, moléculas, seres minerais, vegetais e animais. 65% do universo são de algo extremamente tênue que o permeia e que pode ser a sua alma, por conseguinte, a dos seres vivos. Há dicotomias antigas: alma de rei e alma de súdito; alma de senhor e alma de escravo; alma de leão e alma de carneiro; alma de lobo e alma de ovelha. Ao atribuir alma ao povo, Luiz Inácio pode ter imaginado um tipo de energia psicofísica aglutinadora que anima a coletividade numa comunhão de idéias, sentimentos, aspirações e interesses. Para formar laços anímicos do todo, pouco sobra das diferenças sociais e econômicas e dos antagonismos existentes entre as partes. Esse pouco permite o acesso de muitos ao conhecimento da alma coletiva. Ao dizer que ninguém a conhece como ele, é possível que Luiz Inácio esteja se referindo ao tipo masoquista de alma que gosta de ser enganada e de votar em corruptos.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/07/2006 03:02:00 AM |
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