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A FLOR DO LODO
por João Nemo em Mídia sem Máscara
Mais uma vez as manchetes de jornal nos dão conta de que há petistas, desses escalados para servir de anteparo ao presidente, que se mostram indignados porque a oposição estaria tentando ligar Lulla aos escândalos de corrupção. Esses escândalos, como sabemos, fazem agora parte do nosso dia-a-dia e atuam de modo semelhante àquelas vacinas para mordida de cachorro louco: são múltiplas, desagradáveis, doem na barriga, mas criam imunidade contra a raiva. As vacinas, porque produzem anticorpos; os escândalos, porque inconseqüentes, vão gerando insensibilidade.
Só um mecanismo de completa dessensibilização poderia explicar a aceitação resignada das cataratas de lixo que brotam toda vez que se mexe em qualquer coisa neste governo. Lembremos: toda a sujeira encontrada no Congresso vem diretamente de dutos que têm as suas nascentes no Executivo. Apesar disso, a imprensa nos brinda, constantemente, com declarações em que - como diríamos? - o “suposto” Presidente Lulla alega não ter sabido de nada, nem visto nada, nem ouvido nada a respeito das “supostas” peripécias que lambuzam os principais homens do seu “suposto” governo, companheiros de “supostas” caminhadas e “supostos” churrascos.
Não bastou o tombo do Chefe da Casa Civil, o “Capitão do Time”, que costumava dizer que “nada fazia sem que o Presidente soubesse”. Este, não devemos esquecer, usava os serviços do famoso Waldomiro como interlocutor, fosse junto a congressistas ou a empresários do jogo. Afastou-se para a penumbra, também, o grande samurai da publicidade, outro amigo e aliado histórico, que regulava e talvez ainda regule as torneirinhas para irrigar os amigos e desidratar os adversários. Caiu o ministro apontado até por banqueiros como a confiável garantia da estabilidade econômica e do bom senso, depois de uma rasteira manobra de difamação de um simples caseiro. Houve choro e declarações de amor na despedida mas, felizmente, o mundo não entrou em depressão econômica por causa disso. Foram “tombando” companheiros, uns atrás dos outros, porque cometeram “erros” que, em quase todo mundo, são considerados crimes mesmo. Porém, jamais perderam o afeto e a proteção do chefe traído. Presidência do PT tornou-se cargo mais instável que o de peão de obra. Vale qualquer coisa para evitar que o “saúva rainha” seja atingido, porque isso seria fatal para o formigueiro e pela amostragem do caixa fantasma que circula em malas e cuecas, sempre será possível garantir uma vida tranqüila para súditos leais, bem comportados e com espírito de sacrifício. Quando alguém fica meio inquieto, como aconteceu ao tal Silvinho Land Hover, uma dose apropriada de sedativos, afagos e advertências resolve rapidamente o problema. Ninguém deve sentir-se abandonado, criar ressentimentos e sofrer a tentação de fraquejar.
O criminalista oficial da República, porém, já avisou que não continua se houver reeleição, no que faz muito bem. Ganhava muito mais na banca e não trabalhava tanto, tendo que produzir álibis em série e ainda se arriscando a virar parte do enredo.
Nesta última peripécia - a da fabricação de um dossiê - tombam heroicamente mais alguns “companheiros” com toques de surrealismo: um Freud que não quer explicar nada e um especialista em churrascos com nome de chuveiro, responsável por uma ducha fria no primeiro turno da campanha. O nosso grande líder, que recentemente surrupiou até os aplausos dados ao Secretário Geral da ONU para editá-los no seu filmete de campanha, continua supostamente puro e inocente, apesar de toda a impureza que o rodeia. Considerando a recomendação pouco higiênica do tal ator de novelas, com certeza terá usado luvas impermeáveis. O mais intrigante é que se trata de uma flor rodeada de podridão. É a verdadeira flor do lodo.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/26/2006 03:00:00 AM      |