Por Vannildo Mendes em o Estado de São Paulo Em carta aberta, ex-presidente acusa sucessor por ‘podridão reinante’ e diz que PSDB errou ao proteger Azeredo Em uma “Carta aos Eleitores do PSDB”, divulgada no site do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem a mais contundente análise sobre o que ele chamou de “momento paradoxal” da “desfaçatez” da política brasileira. “Para que não pairem dúvidas”, FHC deixa claro que as críticas são dirigidas ao presidente Lula e ao PT, a quem responsabiliza pela crise ética e “a podridão reinante” no País. Admitindo que “há muita confusão no ar no trato das questões morais”, FHC usou a carta para também fazer uma autocrítica do comportamento dos tucanos e citar explicitamente o caso do senador Eduardo Azeredo (MG), que era presidente do partido quando foi acusado de ter se beneficiado do valerioduto na campanha eleitoral de 1998. “Erramos quando quisemos tapar o sol com a peneira”, escreveu o ex-presidente. Em tom de autocrítica, ele referiu-se ainda às prisões de São Paulo - “caldo de cultura da criminalidade”, apesar do trabalho positivo de combate à violência, disse - e à privatização mal feita do setor elétrico no seu governo (1995-2002). No texto, FHC afirma que a atitude de Lula no caso do mensalão justificaria a abertura de processo por crime de responsabilidade. Acrescenta que as condições morais que faltam ao presidente para governar o Brasil sobram ao candidato tucano, Geraldo Alckmin. O documento é dirigido “aos militantes, simpatizantes e eleitores” do PSDB e “às pessoas de boa-fé que olham para a política com atenção, embora sem se envolver na vida partidária”.
Os trechos mais fortes da carta são os que abordam o escândalo do mensalão. “Pagar mensalão é crime e como crime deve ser tratado”, diz ele. “A fonte foi pública; é roubo de dinheiro do povo, ainda que empréstimos fictícios de bancos privados tenham sido usados para encobrir esse fato.” De acordo com Fernando Henrique, Lula e o PT levaram os piores setores da política para cena principal, “expondo o País às misérias a que todos assistimos indignados”. Ele considera ser revoltante ver “o presidente e seus arautos passarem a mão na cabeça dos que erraram”, com a desculpa de que “todos são iguais’. Para o ex-presidente, essa é “uma versão mais sofisticada da mesma falta de vergonha de dizerem que a culpa é do sistema”. “A impunidade, a postergação de decisões da Justiça sobre presumíveis culpados desmoraliza tudo, desanima a população e dá a impressão de que o povo é indiferente à corrupção”, registra o texto, cuja maior parte é dedicada mesmo a dissecar a gênese dos mais recentes escândalos. “Não é indiferença, é descrença na punição”. FHC chama os tucanos a encarar com coragem a questão da corrupção, para o bem do País e o futuro do próprio partido. “A podridão que encobre a política está nos transformando em vultos. Precisamos reganhar nossa cara”, prega. “O não à corrupção, não nos iludamos é a condição para o futuro, tanto do País, como nosso.” O texto não evita também temas que incomodam os tucanos, como a violência urbana, a precariedade do sistema penitenciário, a força do crime organizado e as privatizações realizadas no seu governo. Sobre o apagão, diz que de fato faltaram investimentos. FHC também defende a política econômica de sua gestão, a seu ver mal copiada pelos petistas. “É descabido aceitar que a política econômica atual seja a continuidade da nossa”, avalia. “Mantiveram o que era óbvio (metas de inflação, câmbio flutuante e superávits primários)”, prossegue. “Mas sem avanços nas reformas.” A seguir, o presidente critica os juros altos e a falta de investimentos públicos e, com ênfase, o “pacote de bondades” lançado por Lula neste ano eleitoral.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/08/2006 12:13:00 PM |
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