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FALTA OPOSIÇÃO
Por Villas-Bôas Corrêa em A Voz da Serra
Há diferenças, e muitas, entre os enredos das crises que provocaram o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1945, no dramático e genial lance político que enterrou a renúncia humilhante imposta pelos militares, com a entrada pela porta da frente na História e, mais recente, da que levou o presidente Fernando Collor de Mello à tardia renúncia, em 29 de setembro de 1992, quando virtualmente com a corda no pescoço do impeachment – e este último escândalo que estourou a 11 dias do primeiro turno das eleições de 1º de outubro, atingindo em cheio o candidato-presidente Lula, franco favorito em todas as pesquisas.
É o maior dos escândalos da temporada do primeiro mandato e a prudência aconselha cautela na especulação sobre seus possíveis desdobramentos, antes que a apuração da Polícia Federal desfaça dúvidas e confirme o que já se sabe.
Mas caiu no colo da oposição, nos transes agônicos do desespero, a dádiva de uma arma atômica, à espera do dedo competente para detonar.
Para começo da novela, não se trata de peça única no museu dos horrores do “melhor presidente que este país já teve”. É mais um, o mais escabroso. Com as características do bis nos detalhes e na repetição de minúcias.
O elenco de personagens famosos pelas proezas nos covis das tramóias acrescenta figuras patibulares que só enriquecem a galeria com as impressões digitais do Waldomiro Diniz, do companheiro Delúbio Soares, do ex-todo-poderoso virtual presidente em exercício, José Dirceu; do Sílvio Pereira, galã da manipulação de milhões para o mensalão e o caixa dois; do ex-presidente do PT, José Genoíno; do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para citar os mais destacados.
Esta turma fez e aprontou em gabinetes no Palácio do Planalto, vizinhos de andar do candidato-presidente que jamais soube das lambanças combinadas por assessores diretos, da sua absoluta confiança ou enxergou, graças ao patuá de mandinga poderosa que opera com a cegueira tática que o poupou de ver os milhões que passaram pelos corredores palacianos rumo aos muitos cofres do PT.
O capítulo da semana enrosca o personagem principal em embaraços infernais. O fio da maroteira começa, por assim dizer, no anexo do seu gabinete, no terceiro andar privativo da corte, próximo ao gabinete privativo de seu secretário particular, parceiro nas caminhadas matinais nos jardins do Alvorada, Freud Godoy, denunciado pela PF como o responsável pela compra do dossiê que incrimina o candidato oposicionista, Geraldo Alckmin, de envolvimento na aquisição de ambulâncias superfaturadas da Operação Sanguessuga.
Freud mereceu a homenagem de sair de topete penteado: não foi demitido, licenciou-se. Para a aquisição do papelório, a gangue dispunha de R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo, apreendido pela PF com o advogado Gedimar Pereira Passos. O ilustre causídico trabalha na campanha de Lula. O comando operacional do golpe foi confiado à perícia do petista Jorge Lorenzetti, o churrasqueiro oficial de Lula.
Não é sensato apostar o que restou do cacife da esperança em resultado semelhante aos dois antecedentes da crônica turbulência da nossa amarfanhada experiência democrática. Além das razões que bóiam na obviedade, há uma diferença fundamental: não é só o governo que afundou no poço sem fundo da mediocridade. A oposição, com as ressalvas clássicas, esqueceu no caminho a garra, a ira, a unidade de outros e saudosos tempos. Vaga pela pasmaceira do Congresso que se arrasta na rota suicida da desmoralização e do desprezo da população.
A tribuna parlamentar fornece a dieta para os noticiários das rádios e televisões da rede doméstica, entupida por baboseiras.
Sem o microfone ligado ao país, a oposição bate o sino sem badalo. A derrubada de Getúlio Vargas foi o desfecho de uma campanha memorável, na despedida do Rio, que não sabia que, em menos de duas décadas, deixaria de ser a capital do país. Pelas tribunas do governo e da oposição desfilaram os expoentes da fase de ouro da eloqüência: Carlos Lacerda, Afonso Arinos, Aliomar Baleeiro, Bilac Pinto, Adauto Lúcio Cardoso, Oscar Dias Corrêa, Gustavo Capanema, Vieira de Melo, Nestor Duarte.
Um marco histórico: o discurso do então líder da oposição, deputado Afonso Arinos, foi decisivo para precipitar a queda de Getúlio.
Agora, falta governo. E também oposição.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/21/2006 01:20:00 AM      |