Na Tribuna da Imprensa BRASÍLIA - Depois de um dia nervoso no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu afastar o presidente do PT, Ricardo Berzoini, da coordenação de sua campanha pela reeleição. Derrubado pelo escândalo produzido pela tentativa de compra de um dossiê contra os tucanos, Berzoini será substituído pelo assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, que também é vice-presidente do partido. Em reunião tensa iniciada no final da manhã de ontem no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente, Berzoini apresentou pessoalmente a Lula suas explicações sobre o caso.
Os petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos tentaram comprar por R$ 1,75 milhão um dossiê montado pelos empresários da máfia das ambulâncias, material que continha fotos e documentos que supostamente vinculariam o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, ao esquema dos sanguessugas. Berzoini disse ao presidente que não sabia do dinheiro, mas argumentou que é prática comum em campanhas eleitorais comprar informações, muitas vezes até como proteção contra adversários. Ele alegou ainda que, no caso em questão, o dossiê poderia judar o candidato petista ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, já que Serra lidera as pesquisas de intenção de voto. Também participaram do encontro no Alvorada os ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Tarso Genro (Relações Institucionais), o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o publicitário responsável pelo marketing da campanha, João Santana, e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo. Ao sair da reunião, Berzoini parecia tranqüilo. "Fico à disposição para dela (campanha) sair a qualquer momento, mas o presidente não me pediu isso", declarou aos jornalistas que o aguardavam com ansiedade na porta do Alvorada. Resposta As explicações de Berzoini, porém, não foram consideradas suficientes por Lula e pelos ministros que participaram da reunião. A avaliação era de que a repercussão negativa do episódio exigia uma resposta drástica. A portas fechadas, o presidente se disse surpreendido, por exemplo, com a informação de que Oswaldo Bargas, um dos petistas envolvidos na operação de compra do dossiê, tinha deixado um cargo de chefia no Ministério do Trabalho para trabalhar na campanha. "Achei que ele estivesse batendo carimbo em papéis no ministério", teria afirmado. Coube a Tarso Genro, sinalizar que a situação do presidente do PT tinha se tornado insustentável. "Se Berzoini vai continuar ou não na coordenação da campanha isso diz respeito a uma decisão de partido", afirmou Tarso, em entrevista concedida no meio da tarde de ontem no Planalto. "Aqui estou falando pelo governo e o governo quer que se investigue todas as questões mencionadas." No final da tarde de ontem, Berzoini foi convocado para mais uma reunião, desta vez no Palácio do Planalto. Depois desse novo encontro com Lula, já no início da noite, o comitê da campanha pela reeleição divulgou uma nota informando que o presidente do PT tinha sido substituído por Marco Aurélio. O texto de cinco linha registra que "o presidente (Lula) destacou o importante trabalho que Berzoini desempenhou nos últimos meses, de fundamental importância para a consolidação da liderança de sua candidatura".
Editado por Giulio Sanmartini às 9/21/2006 12:56:00 AM |
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