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SARNEY, O CENSOR MULTIMÍDIA
Por Antonio Avellar na Tribuna da Imprensa
Era de se admitir que a "capa dos imortais" tivesse lhe dado realmente a postura de um intelectual liberal, mas, passado quase meio século da ditadura militar, da qual foi um dos principais artífices, e depois a renegou, o que se pode constatar de fato ainda hoje é que o senador José Sarney (PMDB-AP) ingressou na ABL apenas para usá-la como disfarce de sua verdadeira face oculta. Pois continua exorbitando dos seus poderes de sátrapa tal e qual abusou do mandonismo durante algumas décadas no Estado do Maranhão.
Só que agora exorbita e estende os seus tentáculos para o Estado do Amapá. Depois de contribuir decisivamente na cassação do senador João Capiberibe (PSB-AP), Sarney se volta agora contra a mídia local, censurando jornal, rádio e por último até a internet, conseguindo todo pacote repressor via Justiça Eleitoral daquele estado, quando tirou recentemente do ar os blogs das irmães Alcinéa e Alcilene, com a condescendência da UOL. Acontece que Alcinéa não se deu por vencida, e está outra vez no ar com o blog . Isto é, se as mesmas poderosas forças da repressão já não lhe tolheram novamente a liberdade de expressão.
Sarney migrou para o Amapá apenas com o domicílio eleitoral, e em uma época em que estava sendo rejeitado pelos caciques do PFL, se abrigando então no PMDB, uma prática comum entre os carreiristas, que usam os partidos de acordo com suas conveniências. No seu caso, já passou pela UDN, Arena, PDS, PFL e já vai para o terceiro mandato como senador "amapaense", explorando a sigla do saudoso Dr. Ulisses Guimarães. Depois de servir e se servir de todas elas, agora usa e se deixa usar pelo PT de Lula, de quem é confidente e conselheiro.
Com todo um histórico de desserviços prestados ao País - os últimos do Amapá são apenas pequenas amostras do seu legado na política nacional -, mas no Sul Maravilha o censor multimídia e político multipartidário continua posando de intelectual e de senador da República acima de qualquer suspeita. Para isso, dispõe dos meios de comunicação no Estado do Maranhão, dos quais é dono de quase tudo, e se não bastasse ainda assina semanalmente uma coluna na "Folha de S. Paulo", onde exerce com uma certa maestria a escrita verniz.
Na coluna do dia 08-09, por exemplo, caprichou sobre o conceito democrático, com ares até filosófico e professoral, definindo-o assim: "A democracia é a constituição pelo cidadão do autogoverno, que se legitima pela sua escolha. Daí a importância do voto. O eleitor tem que examinar a vida da pessoa, a começar pelo seu conceito na comunidade. Se não presta para ser respeitado, não pode representar ninguém". Sócrates e Platão estariam desempregados... quão ingrata e farsante é a vida hoje.
Em linhas gerais, o seu discurso é a mais nítida clareza da comprovação da tese de que o papel aceita tudo. Ou ainda do clássico popular "faz o que mando mas não faz o que faço". Ou melhor, Sarney continua o mesmo, o que escreve é uma coisa, mas na prática é o avesso do avesso.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/21/2006 12:59:00 AM      |